quarta-feira, 16 de abril de 2008

A caravela amarela - 25 a 31/01/08

PARIS
Bem, para aqueles que ainda não me conhecem eu vou me apresentar. Meu nome é Marco Antonio Doril, parente distante da Aline Dorell, anônimo internacional e tudo e tal. Bem, no ano do Rato eu fui convidado por minha amiga Bia Falcão pra jantar num restaurante chiquérrimo na Champs-Elysées, e eu achei muito estranho porque a comida era deliciosa, como em todo bom restaurante francês, mas Bia nem tocou no prato. Bem, enquanto bebíamos Gardène von Bouche e conversávamos sobre o primeiro mundo e la joie de vivre, eu tinha a impressão de ver roedores entrando e saindo da cozinha, e um chef maluco com um “camindongo” na cabeça fazendo gestos de marionete e ooo ooo ooo isso me fez temer uma leptospirose. Mas atribuí isso aos efeitos deletérios e duradouros das pílulas coloridas.
Bem, aproveitando que estava em Paris, resolvi que era uma ótima oportunidade de complementar meus estudos iniciados em Florianópolis com a Senhora do Tempo, e decidi: vou ao Louvre. Eu sabia que seria uma experiência muito desgastante, especialmente porque meu corpo já mostrava sinais de uma nada elegante gripe européia. Mais tarde, ao ler as manchetes dos jornais e revistas nas bancas, depois de me deter nas notícias mais importantes daqueles dias, as últimas do casal Sarkozy, a prisão do Fábio Assunção e a morte do Heath Ledger, fiquei sabendo que o Brasil estava tomado por uma epidemia de febre amarela. Semanas depois seria a dengue. O que é uma gripe francesa perto disso?
Bem, chegando ao Louvre fui direto me livrar da obrigação de ver a Mona Lisa, e eu não sei como faziam uma progressiva tão boa naquela época. Pena que não temos um retrato da Mona quando era crespa, pra compararmos o antes e o depois. “Arerê arerê a Xuxa faz milagre na TV”, pensei ter ouvido enquanto matutava nessas idéias, mas já deviam ser os primeiros sinais de delírio.
Bem, achei muito mais divertido procurar a Madona das Rochas mas com tanta gente por perto não pude verificar se havia alguma mensagem atrás da tela. Não sei como o Tom Hanks conseguiu. Segui em frente, pois ainda havia muito o que decifrar - o mapa do museu - até encontrar o Código... de Hamurabi! E muitas telas, muitas pessoas “assim”, muitos cachorros de colar, e eu precisava dar um alô ooo ooo para a Marianne, uma grande considerada do meu amigo Pulguento.
Bem, eu me debatia no meio daqueles desgramados japoneses, que tiravam foto mesmo sendo proibido, e cada mergulho era um flash, fui ficando desnorteado, e a última coisa que lembro foi a Vitória de Samotrácia voando em minha direção.
Bem, quando acordei eu estava abraçado à Vênus de Milo. Eu abraçado a ela, não ela a mim, pois como todos sabem ela perdeu os braços. Assim como Maria Antonieta perdeu a cabeça e eu... bem, naquele momento eu não estava me sentindo muito inteiro.
Bem, meu único sábado em Paris eu passei de cama, literalmente. Não me dei conta na época, mas hoje penso que Bia tentou me eliminar, colocando algo em meu vinho, para que eu não revelasse o seu paradeiro pra Interpol. Nos dias seguintes, consegui reunir forças pra dar mais algumas caminhadas, como faço sempre que vou a Paris, descansando nos bancos dos parques enquanto devorava pacotes de madeleines. Encontrei por acaso a Estátua da Liberdade, que veio visitar os parentes (hein? bom, todos sabem que ela tem dupla cidadania, não preciso explicar mais). E, depois de anos daquela histórica viagem faediana a São Paulo, fui no Museu Rodin ver a versão original e oficial d'O Pensador e d'A Porta do Inferno, completando um ciclo de contemplação que começou há seis anos.
Bem, é claro que deixei o “ponto alto” por último. Subi na Torre Eiffel um pouco antes do anoitecer, o que me permitiu contemplar a cidade em vários tons de luz. Hoje, com o meu novo vocabulário, só posso descrever Paris de uma forma: é MARA!
Bem, já recuperado comprei autênticos souvenirs e mandei içar velas para zarpar rumo à Terra de Santa Cruz, pois o bloqueio continental estava apertando e a esquadra inglesa se comprometeu a me escoltar.
Au revoir, Napoleão!

O cofrinho da Vênus: não tem preço

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