segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A vida é um sopro

(Oscar Niemeyer)
Não é o ângulo reto que me atrai.
Nem a linha reta, dura, inflexível,
criada pelo homem.
O que me atrai é a curva livre e sensual.
A curva que encontro nas montanhas
do meu país,
no curso sinuoso dos seus rios,
nas ondas do mar,
nas nuvens do céu,
no corpo da mulher preferida.
De curvas é feito todo o Universo.
O Universo curvo de Einstein.
.
.
















Festinha de aniversário do ano passado: 100 velinhas com curvas em um bolo de concreto armado

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Profissionais do ano

Meses atrás, internetando por esse mundo virtual de meu Deus, caí no blog de um jornalista que assina sob a alcunha de Reverendo Thomas Heat. Bem pouco sutil, ele transcrevia uma suposta entrevista que havia dado a um estudande de jornalismo, em que ele esculhambava a profissão. Não sei se é verdade, mas é um texto ótimo.
Veio a inevitável série de comentários, incluindo o de uma recém admitida no curso de Jornalismo/Publicidade e Propaganda, chamada Juliane, que, do alto de sua estupidez, falta de conteúdo e péssima escrita, discordou do e criticou o autor. E ainda tentava ser irônica.
Os links estão aí pra quem quiser ler o artigo e o comentário, na mesma página. Cada um que os interprete livremente. O mais importante, entretanto, é a réplica do Reverendo, simplesmente O MELHOR TEXTO que li em todo este ano da graça e da desgraça de 2008. Ei-lo (as aspas são minhas):
.
Juliane, deusa da sabedoria: obrigado por ter gasto seu precioso tempo "entre uma risadinha e outra" para ler o meu texto "diminuindo os jornalista".
Minha única resposta diante do seu brilhante comentário é o silêncio. Não por achar que você está certa, mas por saber que a caralhada na bunda de uma pessoa com o seu ego e a sua falta de noção será muito, mas muito mais dolorida.
E o meu comentário também tem agradecimento: meu muito obrigado ao casal Nardoni, que demonstrou ao país como se lida com crianças insuportáveis. Tivessem seus pais este exemplo quando você deu os primeiros sinais de que ia se tornar este entojo, Juliane, e eu não estaria gastando as pontas dos dedos neste momento.
Sem mais, despeço-me. Morrendo de pena desse tal Beto.
.
Nada substitui a falta de talento

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Sorte grande (Bohemia) (Sorte grande)

Ao antropólogo Claude Lévi-Strauss,
que não tem nada a ver com a calça jeans
e completa 100 aninhos na próxima sexta.
A índia nambiquara o parabeniza e abre um lindo sorriso.
(Lourenço / versão: Filha Fofa da Palhoça)
A minha sorte grande
foi o Fábio ter vendido
a bolachinha curandeira
Bohemia é solução
pra passar com o Falcão
Não sei se tem outra maneira
É lindo o sorriso
da índia nambiquara
do professor Almir
Santa Catarina
começou lá na Palhoça
Eu disse que era assim
Com a greve ano passado,
nós ficamos bem no laço
Com ele não é brincadeira
“Temo” que ter cuidado
pra não ser aniquilado
Ou então “vamo bebe” Bohemia
Bohemia! Bohemia! Bohemia!
Pro Falcão tem que ser Bohemia
.
Sorriso nambiquara

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Se vira nos 80

Conversas que se propagavam pelas paredes do Túnel do Tempo enquanto eu fazia a travessia. Desconheço a origem, mas até parece papo de msn.
Primeira Voz: Eu fui num dos últimos, acho que tinha a Xuxa...
Segunda Voz: A Princesa Xuxa e os Trapalhões.
Primeira Voz: Eu também fui ver Lua de Cristal hahahaha...
Segunda Voz: Eu também.
Primeira Voz: É, esse mesmo!
Segunda Voz: Antes do cinema de Laguna virar Igreja Universal...
Primeira Voz: Nos outros eu não fui não, via pela TV. Sabe como é, em casa eram três, ficava muito caro ir no cinema!
Segunda Voz: É foda. Como todo mundo era mais pobre também, né? Até hoje eu tenho o trauma de nunca ter ganhado o castelo do He-man, porque era muito caro.
Primeira Voz: Cara, hoje eu falo, como a gente era pobre! Pra ganhar uma Barbie era o ó e hoje você compra de baciada!
Segunda Voz: Hoje os brinquedos são caros mas não parecem tão inacessíveis.
Primeira Voz: Pois é, era um sufoco pra minha mãe no Natal, porque eram três pra dar presente. E a gente esperava tanto pra chegar! A casa da Barbie a gente montava com caixa de sapato e sucata, o carro da Barbie era uma pantufa!
(Segunda Voz entra em crise de riso.)
Primeira Voz: Isso que você não sabe do resto... Cara, era cada coisa que a gente fazia, tipo "se vira nos 30" hehehe... O melhor era brincar de Xuxa usando um desodorante como microfone...

A Estrela é nossa companheira

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Oração contra o bruxedo

(domínio público)
Pela cruz de São Saimão
Que te benzo com a vela benta
na sexta-feira da paixão
Treze raios tem o sol,
treze raios tem a lua
Salta demônio para o inferno,
pois esta alma não é tua.
Tosca Marosca, rabo de rosca
Aguilhão nos teus pés
e relho na tua bunda.
Por baixo do telhado,
São Pedro, São Paulo e São Fontista
Por cima do telhado, São João Batista
Bruxa tatarabruxa,
tu não me entres nesta casa,
nem nesta comarca toda.
Por todos os santos, dos santos,
Amém!
.
Credo em cruz, santo nome de Jesus!

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

1, 2, let's play zoo!

Em muitos lugares do país, os calouros são chamados de bixos (com x, pra manter a tradição de escrever errado). Em Santa Catarina, calouro é calouro mesmo. Mas na minha época de calourice bem que tentamos, em várias ocasiões, encontrar o nosso lado selvagem. Tudo culpa da Morena Tropicana que, tendo passado uma temporada entre as branquelas temperadas dos "isteites", ensinou-nos um modismo. Mais uma contribuição do imperialismo ianque para destruir os nossos valores culturais.
Em tenra infância, brincava-se de "ovo choco", aquela brincadeira em que todos sentam em roda no chão e uma criança fica dando voltas com uma pedra ou outro objeto pequeno na mão (fazendo as vezes de ovo), entoando um mantra:
Criança: Ovo choco!
Todos: Corococó!
Criança: A galinha quer por.
Todos: Não deve dizer.
Criança: Ela põe amanhã?
Todos: Não sei, vou ver.
Na hora do "não sei, vou ver", todos olhavam pra trás pra ver se a criança tinha colocado a pedra (o ovo) atrás dela. Senão, ela ia repetindo a cantiga. Quando alguém era presenteado com o ovo, saía correndo atrás dela, e não lembro mais o que acontecia. Era uma cantiga de roda, só que sem rodar. Uma das coisas mais básicas da vida (mas uma consulta ao Google só traz uma versão que desconheço completamente), mas que compreende um dos casos mais antigos de "músicas que eu não entendo a letra" da minha vida.
É óbvio que a galinha queria pôr os ovos, não há outra interpretação possível, e todo mundo entendia isso. Mas eu - e, como descobri anos mais tarde, minha amiga Pecaaado também - entendia "a galinha quepô". Algo assim como um tipo de galinha: galinha d'angola, galinha caipira, galinha "quepô"! Mas eu entendia que a galinha queria pôr os ovos, não era tão retardado assim.
Mas os tempos da faculdade eram outros, estávamos em 1998 - que forma um único bloco com 1999, conhecido pelos historiadores do direito como "o ano que não acabava nunca" -, éramos felizes, sabíamos e por isso mesmo não nos importávamos de brincar em público e a céu aberto de algo novo para nós, o incomparável e descoordenado "Let's play zoo".
Não há como descrever o jogo e, de qualquer forma, era só para iniciados. A Pequenininha, já naquela época muito sensata, não participava. Os demais eram fiéis ao ritual. A maioria não tinha coordenação motora, a outros faltava coordenação mental. Eu era sempre o urso e na seqüência chamava a girafa, porque eu nunca pensava rápido o suficiente em outro bicho. Porco, coelho, bode (a diferença dos chifres do bode para as orelhas do coelho era de uma sutileza percebida por poucos), guaxinim, peixe (o mais difícil), unicórnio! Mas ninguém nunca fez a galinha "quepô". Lamentável esquecimento.
De novo: One, two, let's play zoo!
.
A gente é bicho, baby!

domingo, 19 de outubro de 2008

Jornal do Calouro

Houve um tempo em que o vestibular era a lei. As cabeças, porém, eram ocas e vazias, e o corpo dos vestibulandos dormia sobre as apostilas (babando!).
E eles disseram, cada um: "Passei."
Em seguida, olharam para suas cabeças raspadas, e tudo quanto haviam estudado e se estressado, e viram que passaram para o segundo semestre. Então descansaram.
Depois veio a greve, e os professores viram que a greve era boa, e os futuros acadêmicos viram que a greve era boa, e o descanso continuou.
Então, o obra prosseguiu, e das alturas desceu o primeiro Jornal do Calouro. E Xi!Marquinho, voltando-se para a Pequenininha, feita à sua meia imagem e meia semelhañça, disse: "Espero que não seja edição diária!"
E, felizmente, não houve edição diária. Houve tarde e manhã: o primeiro dia.
Fonte: A Agenda
.
Erguei as mãos e dai glória a Deus!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Efeito carocha

Elise McKenna apareceu-me em sonho. Depois apareceu na quarta temporada de Smallville, como mãe do cara que faz Supernatural. Ela me chama. "Volte pra mim", ela diz. Preciso voltar no tempo, mas como? Deve ser fácil conseguir um pouco de plutônio no mercado negro mas onde vou encontrar um DeLorean?
Efeito borboleta é complicado demais até pra mim. Aprendi com o Desmond que a gente precisa de uma âncora no presente. Mas a que me apegar? Penny? Demi Moore? Oh my love, my darling, Elise McKenna, preciso encontrar uma solução. Enquanto reflito, olho pra lâmpada rodeada de cupins, e me lembro das carochas no verão, pilhas e pilhas de carochas mortas no calçamento, à luz fraca dos postes, na frente da Pescasa. "As mariposa, quando chega o frio, fica dando vorta em vorta da lâmpida pra se esquentá." Efeito mariposa, aliás, efeito carocha. Esse insight revela a minha âncora: os anos 80, tenho que me apegar a eles.
Vou pra Terra Querida. Espalho meus cadernos do Bradesco, meus gibis do Chico Bento, meus brinquedos da Estrela, as notas rosas de $ 100.000 do Jogo da Vida. À cabeceira da cama, um copo de vidro da Coca-Cola escrito em árabe, relíquia sagrada preservada por décadas. Reproduzo o melhor possível o ambiente da infância, com os parcos recursos de que disponho hoje. Não uso pijamas há muitos anos e, de qualquer forma, não me serviriam. Portanto, deito coberto apenas com aquele cobertor rasgado e carcomido que, desde tempos imemoriais, chamamos lá em casa de "velho cagado". Fecho os olhos. Christopher Reeve me disse exatamente o que fazer.
Penso no Silvio Santos. Penso na Xuxa. Penso na caravana do Clube do Bolinha. Repito incontáveis vezes:
Meu nome é Marcantonio, hoje é sexta-feira, 27 de junho de 1986. São 8 da manhã e vai começar o último programa do Balão Mágico. Meu nome é Marcantonio, hoje é sexta-feira, 27 de junho de 1986. São 8 da manhã e vai começar o último programa do Balão Mágico...
Vacilo. Será que funcionará? Este é meu erro, que me trará contratempos no caminho. Recomeço.
Meu nome é Marcantonio, hoje é sexta-feira, 27 de junho de 1986. São 8 da manhã e vai começar o último programa do Balão Mágico. Meu nome é Marcantonio, hoje é sexta-feira, 27 de junho de 1986. São 8 da manhã e vai começar o último programa do Balão Mágico...
Tenho a sensação de ouvir a Cissa Guimarães...
... sexta-feira, 27 de junho de 1986. São 8 da manhã...
.
Direto do túnel do tempo

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Interrompemos a nossa programação



Bote fé no Velhinho!



Lá lá lá lá lá Brizola!



Lula lá!



Collorir de novo



Juntos chegaremos lá!

É o 26! É o 26!



Meu nome é Enéas!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Pessoas boas - a canção

(Jorge Aragão, Dida, Neoci)
Chora, não vou ligar
Chegou a hora, vais me pagar
Pode chorar, pode chorar (mas chora!)
Chora, não vou ligar
Chegou a hora, vais me pagar
Pode chorar, pode chorar

É o teu castigo,
brigou comigo
sem ter por quê
Eu vou festejar (vou festejar!)
o teu sofrer, o teu penar
Você pagou com traição
a quem sempre lhe deu a mão
Você pagou com traição
a quem sempre lhe deu a mão (la laiá, la laiá)

La laiá laiá...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Pessoas boas - Bette Davis

“Apertem os cintos, pois a noite será turbulenta.”
“Eu detesto sentimentalismo barato.”
“Belo discurso, Eve. Mas não se preocupe com seu coração, você sempre poderá substituí-lo pela estátua que acabou de ganhar.”
“Envelhecer não é para mocinhas.”
“Havia muito melhores interpretações nas festas de Hollywood do que jamais houve nas telas de cinema.”
“Eu me casaria de novo se encontrasse um homem que tivesse uns US$ 15 milhões, dividisse metade comigo e me desse a garantia de que estaria morto em um ano.”
“Eu queria ter ganhado três Oscar, mas miss Hepburn conseguiu primeiro. Na verdade ela não conseguiu, ela só ganhou meio Oscar. Se eles me dessem meio Oscar eu jogaria na cara deles. Sabe como é... Eu sou de Áries, eu nunca perco.” (sobre o fato de Katharine Hepburn ter dividido o Oscar de melhor atriz com Barbra Streisand em 1968)
“Gary era um macho man, mas nenhum de meus maridos foi macho suficiente para se tornar o mr. Bette Davis.”
E sobre Joan Crawford:
“Ela já dormiu com todos os astros da MGM, exceto a Lassie.”
“Por que sou tão boa intepretando vilãs? Talvez porque eu não seja uma vilã. Talvez por isso a Joan Crawford sempre interprete mocinhas.”
“Nunca se deve falar coisas ruins sobre alguém que está morto. Apenas coisas boas. Joan Crawford está morta. Ótimo!” (quando sua inimiga morreu em 1977)
“Não é porque alguém está morto que se tornou uma pessoa melhor!” (idem)
“Joan Crawford e eu nunca fomos amigas calorosas. Nunca fomos simpáticas. Eu a admiro e, ao mesmo tempo, sinto-me desconfortável com ela. Para mim, ela é a personificação de uma estrela de cinema. Eu sempre tive a impressão de que sua melhor performance era Crawford interpretando Crawford.”
“Eu não mijaria nela nem se ela estivesse em chamas.”
.
Eu nunca estarei abaixo do título

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Dona Canô chamou

(Neguinho do Samba)
"Caetano, venha ver aquele preto que você gosta!"
Dona Canô chamou, eu vou
Dona Canô chamou, eu já me vou Dona Canô
Antes que o rio esteja cheio
tenho que atravessar
o chamado de Dona Canô
eu não posso negar
"Dona Canô"
Dona Canô chamou, eu vou
Dona Canô chamou, eu já me vou Dona Canô
Antigüidade é posto
temos que respeitar
Dona Canô é Canô
Dona Canô é de lá
"Dona Canô"
Dona Canô chamou, eu vou
Dona Canô chamou, eu já me vou Dona Canô
Hoje Caetano e Gil
estão juntos na TV
outro dia Dona Canô disse
Caetano venha ver
Aquele preto que você gosta
aquele preto que você gosta
aquele preto que você gosta
está cantando na TV

Alô, meu Santo Amaro!

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Pessoas boas - os físicos

Por essa nem eu esperava. Provavelmente cansados de aguardar o fim do mundo que não chegava nunca - vide as previsões de tantas seitas, o Bug do Milênio e o fiasco do Dia da Besta -, os físicos de todo o mundo resolveram tomar a dianteira eles mesmos.
Eis que, no coração do planeta, ou seja, na fronteira da França com a Suíça, está sendo posto em funcionamento hoje o LHC, que não é nenhum ex-presidente do Brasil. Trata-se do singelo Large Hadron Collider (Grande Colisor de Hádrons, na sigla em inglês), a máquina que tem a humilde pretensão de reproduzir o Big Bang. O pior é que a Dercy, único ser conhecido que presenciou o evento, está em repouso e não poderá confirmar se eles conseguiram ou não. Se bem que, se conseguirem, não sobrará ninguém pra publicar na Science.
.
Cientistas testam com sucesso máquina que tenta reproduzir o Big Bang
Quase 9.000 cientistas se reuniram nesta quarta-feira na fronteira entre a Suíça e a França para realizar o primeiro teste com o LHC (Grande Colisor de Hádrons), a máquina mais poderosa do mundo que tentará reproduzir o Big Bang, a explosão que deu origem ao Universo.
O teste realizado consistiu em atirar o primeiro feixe de prótons em um gigantesco túnel circular de pouco mais de 27 quilômetros de comprimento para observar a colisão das partículas e seus resultados. O equipamento tem como objetivo revolucionar a forma como enxergamos o Universo hoje.
Colocados no acelerador, os prótons deram uma volta completa no enorme túnel. O êxito do primeiro teste foi muito comemorado pelas dezenas de cientistas presentes na sala de controle do organismo, que aguardavam com expectativa o resultado.
"Tenho certeza de que funcionará", disse o diretor-geral do Cern, Robert Aymar, minutos antes do início do teste, em um ambiente ainda cheio de expectativa.
O diretor do projeto LHC, Lyn Evans, tinha anunciado antes que não era possível saber quanto tempo o feixe demoraria para colidir, o que ocorreu em pouco mais de 50 minutos. Os testes eram feitos em pequenos passos de alguns quilômetros, até que os técnicos aprendessem a lidar com o feixe.
.
Miniburaco negro
Uma grande apreensão tomou conta dos momentos iniciais antes do primeiro teste, conduzido por Evans. O grande temor por trás das pesquisas com o LHC são as notícias de que o experimento de colisões de hádrons (partículas como prótons e nêutrons) pela máquina poderia criar um "miniburaco negro" que engoliria a Terra.
"É irreal. Isso não faz sentido", disse James Gillies, o porta-voz do Cern (Organização Européia para Pesquisa Nuclear), organização responsável pelo LHC.
Por meio de testes com choques de prótons e nêutrons, os pesquisadores querem saber logo que segredos do Universo serão desvendados pelo aparelho, desde a origem da massa até a estrutura da matéria escura.
Situado sob a fronteira entre Suíça e França, a uma profundidade até 120 metros, o enorme colisor de partículas é constituído por 60 mil computadores e custou mais de US$ 10 bilhões.
Em entrevista à imprensa internacional, Gillies afirmou que o mais perigoso incidente que poderia ocorrer com o LHC é o equipamento se quebrar e acabar soterrado sob a Europa. Além disso, ele declarou que no estágio inicial o colisor só funcionará parcialmente, sendo que o potencial máximo do LHC só deverá ser alcançado após um ano.
"Nesta quarta-feira nós começaremos com pouco", disse. "O que nós estamos colocando para funcionar é uma pequena parcela de feixes a baixa intensidade. Isso nos dará experiência para conhecer melhor a máquina."
Somente depois do primeiro teste será possível saber se o maior acelerador de partículas do mundo funciona corretamente, mas os primeiros impactos das partículas não serão produzidos durante alguns meses. Só após esse tempo será iniciada a obtenção de dados.
.
Construção
A realização do LHC foi algo tão complexo quanto as experiências que devem ser feitas nele. "Primeiro, foi necessário construir a máquina no túnel, algo que começamos a fazer há muitos anos, e depois tivemos de aprender a resfriá-la", explicou o engenheiro espanhol Antonio Vergara Fernández.
"São quase 28 quilômetros de acelerador que precisaram ser resfriados a -271°C", afirma. "Isso começou a ser feito há quase um ano e meio, depois tivemos de conseguir acender a máquina e ver que todos os sistemas funcionavam, mas sem introduzir nenhuma partícula no acelerador."
Esse processo para verificar se a máquina estava pronta para receber os prótons "durou cerca de dois anos". O passo seguinte consistiu em preparar o feixe de prótons do mecanismo, para que entrassem no acelerador e pudessem colidir com outras partículas no túnel.
Está previsto para que o primeiro feixe de prótons comece a circular no acelerador no começo da manhã desta quarta. O objetivo do primeiro dia de funcionamento do LHC é conseguir que os prótons dêem uma volta em todo o anel gigante.
"No início, não conseguiremos. É um processo muito complexo", disse Vergara. "São 28 quilômetros e haverá defeitos que corrigiremos pelo caminho. Faremos o primeiro disparo, os prótons entrarão, se perderão, mas conseguiremos ver onde e como se perderam, e faremos as remodelações necessárias do controle central para depois voltarmos a tentar."
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u443261.shtml
.
Nestes tempos de expectativa pelo iminente encurtamento do velho cordão de prata, quando a Pequenininha - que em tenra idade morou na França -, será minha vizinha, esta notícia não deixa de ser metafórica.
O troço foi construído num túnel circular no subsolo da fronteira entre a França e a Suíça. O colisor é o cordão de prata. A França é a Pequenininha. A Suíça sou eu. Quando essas duas forças se juntarem, as partículas (o veneno) poderão destruir tudo o que existe. Estaria para se confirmar aquele futuro vislumbrado pelo Padre Voador?
Os físicos são pessoas boas.

Não cruzem os prótons

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Pessoas boas - Apollonius de Tiana

Décadas atrás, a cidade de Abalone, EUA, foi visitada pelo chinês conhecido como Dr. Lao, natural de Panohai, à época com 7.322 anos de idade, que, montado no asno de Apuleio, chegou carregando apenas um pequeno aquário, e da noite para o dia levantou um circo cheio de criaturas misteriosas. Uma das mais intrigantes era Apollonius de Tiana, vidente cego que só fala a verdade.

A viúva de Howard Cassan, moradora da cidade, mulher que à primeira vista já sabemos tratar-se de uma velha tola e fútil, chega ao circo e dirige-se diretamente à tenda do vidente. Paga o preço da consulta, cinco centavos, e senta-se em frente à Apollonius, sem perceber que ele é cego.

Sra. Cassan: Não hei de ficar, se o senhor me disser a verdade. O que desejo saber, antes de mais nada, é quando vai jorrar petróleo naquele meu alqueire no Novo México.

Apollonius: Nunca.

Sra. Cassan: Bem... então, quando vou me casar outra vez?

Apollonius: Nunca.

Sra. Cassan: Muito bem. Que espécie de homem vai surgir em minha vida?

Apollonius: Não haverá mais homens em sua vida.

Sra. Cassan: Bem, então do que me adianta viver, se não vou ficar rica, não vou me casar outra vez, nem vou conhecer novos homens?

Apollonius: Não sei. Só leio o futuro. Não o julgo.

Sra. Cassan: Bem, eu paguei. Leia meu futuro.

Leu então Apolônio de Tiana:
Apollonius: Amanhã será como ontem e depois de amanhã como anteontem. Vejo o resto dos seus dias como uma tediosa coleção de horas. A senhora não viajará a nenhum lugar. Não terá pensamentos novos. Não experimentará nenhuma nova paixão. Sua idade aumentará, mas não sua sabedoria. Crescerá seu formalismo, mas não sua dignidade. A senhora não tem mais a juventude. Daquela curiosa simplicidade que no passado atraiu alguns homens, nada resta, nem a senhora as poderá reconquistar. As pessoas lhe falarão ou visitarão por pena ou solidariedade. Não porque a senhora tenha qualquer coisa a lhes oferecer. Já viu uma velha haste de milho que amarelece e definha, mas se recusa a morrer, na qual alguns passarinhos pousam de vez em quando, quase sem notar sobre o que estão pousados? Isso é a senhora. Não consigo imaginar qual seja seu lugar na organização da vida. Uma coisa viva deveria criar ou destruir, segundo sua capacidade ou capricho, mas a senhora não faz uma coisa nem outra. Vive a sonhar com coisas bonitas que gostaria que lhe acontecessem, mas que nunca acontecem; e imagina vagamente por que as jovens vidas ao seu redor, às quais ocasionalmente censura por uma suposta impropriedade, nunca lhe dão ouvidos e parecem fugir à sua aproximação. Quando a senhora morrer, será sepultada e esquecida, somente isso. Os agentes funerários a fecharão num ataúde à prova de vermes, com o que lacrarão, para a própria eternidade, a argila da sua inutilidade. A julgar por todo o bem e todo o mal, toda a criação e toda a destruição que sua vida pudesse haver provocado, a senhora poderia perfeitamente jamais ter existido. Não vejo propósito em tal vida. Só vejo nela um desperdício chocante, vulgar.
A senhora Cassan, em lágrimas há muito tempo, começa a chorar amargamente e sai correndo da tenda. Lá fora, encontra Angela Benedict e recomenda que ela não vá se consultar com ele. Não que ele não seja bom, pelo contrário, disse-lhe coisas maravilhosas, que vai jorrar petróleo nas suas terras e que ela vai se casar com Stark, o homem mais rico da cidade. É porque ele não é muito gentil: deu-lhe alguns beliscões.
Apollonius de Tiana é uma pessoa boa.
(Encontrei o diálogo acima na internet, mas não bate com o texto do filme As sete faces do Dr. Lao, que é um pouco mais curto. Suponho que seja o texto do livro The circus of Dr. Lao. A ação descrita é conforme o filme. Conferirei o texto correto e o transcreverei em breve.)

Amanhã será como ontem, e depois de amanhã como anteontem

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Pessoas boas - Servília dos Júnios

Servília dos Júnios pertence a uma das famílias patrícias mais antigas e poderosas de Roma. Diz-se que seus ancestrais fundaram a república. Há anos é amante de César. Átia dos Júlios, sobrinha de César, humilha-a publicamente para separá-los, e consegue o seu intento. César rejeita Servília para manter seu casamento, uma vez que a influência e o dinheiro da família de sua esposa são mais importantes para seus planos.
Servília, então, inicia uma trajetória de vingança, engendrando maquinações políticas, conspirações e evocando maldições contra César e Átia, chamando seus deuses familiares. Primeiro, Servília amaldiçoa César:
Deuses dos Júnios, com essa oferenda eu invoco Tyche, Megera e Nêmesis para que elas possam testemunhar essa maldição. Pelos espíritos de meus ancestrais eu amaldiçoo Caio Júlio César. Que seu pênis murche. Que seus ossos quebrem. Que ele veja seus legionários afogarem-se em seu próprio sangue. Deuses dos Júnios, eu lhes ofereço seus lábios, sua boca, sua respiração, sua fala, suas mãos, seu coração, seu estômago. Deuses do Inferno, façam-no sofrer profundamente, e eu me alegrarei e lhes farei sacrifícios.
Depois, amaldiçoa Átia:
Pelos espíritos de meus ancestrais eu amaldiçoo Átia dos Júlios. Que os cães a violentem. Que seus filhos morram e suas casas queimem. Que ela tenha uma vida longa de amargura, miséria e vergonha. Deuses do Inferno, eu lhes ofereço seus lábios, sua cabeça, sua boca, sua respiração, sua fala, seu coração, seu fígado, seu estômago. Deuses do Inferno, façam-na sofrer profundamente, e eu me alegrarei e lhes farei sacrifícios.
Ambas as maldições foram evocadas enquanto ela as gravava em um pergaminho de chumbo. Os pergaminhos foram então enrolados e dados à sua escrava, que os escondeu dentro de fendas nas paredes das casas das vítimas de Servília. Sua maldição final precedeu seu suicídio em frente à casa de Átia:
Deuses das trevas, eu sou Servília, dos mais antigos e sagrados Júnios, de cujos ossos as sete colinas de Roma foram feitas. Eu os invoco para me ouvir. Amaldiçoem essa mulher! Enviem-na amargura e desespero por toda sua vida. Que ela prove nada além de cinza e ferro. Deuses do Inferno, tudo o que eu tenho eu lhes dou em sacrifício se me atenderem.
Servília dos Júnios é uma pessoa boa.

Atia of the Julii, I call for justice

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Pessoas boas - a invocação

Berebekan Katabanda
Berebekan Katabanda
Berebekan Katabanda
Berebekan Katabanda
Berebekan Katabanda
Berebekan Katabanda
Berebekan Katabanda
Berebekan Katabanda
Berebekan Katabanda
Berebekan Katabanda...
O feitiço da bruxa galáctica Kilza me persegue desde a adolescência. Aquelas duas únicas palavras pronunciadas interminavelmente são capazes de minar as forças de qualquer um. Ainda hoje, há ocasiões em que acordo ouvindo esse som. Não há a vejo, não há qualquer imagem associada, apenas aquele mantra repetido de uma maneira doentia por uma única voz, superposta a si mesma, em vários canais. Estéreo. Versão brasileira: Álamo.
Kilza tinha o poder de ressuscitar os mortos e de se auto-ressuscitar. Só foi destruída por Jaspion porque ela perdia o controle dos seus poderes quando se deparava com Kumiko, a segunda criança apontada pela luz, e sua mãe grávida (o bebê irradiava uma energia dourada semelhante ao misterioso Pássaro Dourado).
Berebekan Katabanda
Berebekan Katabanda
Berebekan Katabanda...
O estranho é que o encantamento nunca me amedrontou. Pelo contrário, sempre achei Kilza a personagem mais interessante da série. Pena que não tocava castanholas como sua irmã Kilmaza. Recentemente, assistindo a série Roma, deparei-me com uma invocação repetitiva semelhante, a maldição lançada por uma personagem forte, mas que, vencida pelas circunstâncias, chegou ao seu limite. E mais uma vez, não o estranhamento, mas a identificação, quer pelo tom, pelo gestual ou pela simples força das palavras.
É uma pena nunca terem traduzido as palavras mágicas de Kilza. Suas intenções, não há dúvida, eram as piores possíveis. Mas fico a imaginar o real alcance de sua invocação, a força não apenas sobrenatural, mas textual contida no singelo Berebekan Katabanda. Cada um extravasa o seu ódio, rancor, desprezo ou simples indiferença pelos outros a seu modo. Ela inferniza seus desafetos com um canto repetitivo. As palavras têm um poder arrasador.
Kilza é uma pessoa boa.

Kikerá!

sábado, 2 de agosto de 2008

Entre nessa festa!

Quarta-feira, 2 de agosto de 1978, 20:30h
Nasce o Marquinho Pequenininho
No ar, a novela Dancin' Days...
Abra suas asas,
solte suas feras,
caia na gandaia,
entre nessa festa!
E leve com você
seu sonho mais lou ou ou ou louco
Eu quero ver esse corpo
lindo, leve e solto!
A gente às vezes
sente, sofre, dança
sem querer dançar
Na nossa festa vale tudo
Vale ser alguém como eu!
Como você!
Abra suas asas...
Dance bem, dance mal,
dance sem parar
Dance bem, dance até
sem saber dançar (2x)
Na nossa festa vale tudo
Vale ser alguém como eu!
Como você! (3x)
Dance bem, dance mal,
dance sem parar
Dance bem, dance até
sem saber dançar (4x)
Dance bem! Dance mal!
Dance bem! Dance até! (4x)
Mas dance bem, dance mal,
dance sem parar
Dance bem, dance até
sem saber dançar (4x)
Na nossa festa vale tudo
Vale ser alguém como eu!
Como você! (4x)

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Bravíssimo - Dercy Gonçalves, o retrato de um povo

(Gelson, Rubinho, Odir Sereno e Aldir)
Ah, obrigado, Dercy
Mercy, Dercy!
Abriu-se a cortina pro seu show
São cinco letras a sorrir
de Madalena pra Sapucaí
Um dia, lá no trem da esperança
vai o sonho de criança
descendo a serra, tão linda e feliz
A luz então brilhou, o palco se acendeu,
o show vai começar
Na Casa de Caboclo
a menina deslumbrou (ô ô, ô ô)
E no seu primeiro ato
O sucesso abriu os braços
pra você
Brilhante no Teatro de Revista
Em cena o talento de Dercy (oi, fala Dercy!)
Da comédia à piada,
com humor e gargalhada,
eu vou me acabar
Quá, quá, quá, quá, quá
No cassino e no cinema
No sangue o dom de criar (ô, e viajou…)
E viajou, lá foi Dolores
Que dor no coração
Mas quem pensou que a luz se apagou,
se enganou, ela voltou
Ela voltou, com mais garra e inspiração (vejam vocês!)
Cada vez mais sapeca, quem diria,
soltando a perereca da vizinha!
Vou entrar no circo
e com você sonhar
No fim da peça,
pra você gritar, um bravo
Bravo, bravíssimo
Mil aplausos pra você, Dercy (bis)
Ao retrato de um povo
a homenagem da Viradouro

Dercy retorna à sua pirâmide para um período de recolhimento, até a vinda do Olho de Thundera

domingo, 20 de julho de 2008

Queridos amigos

À amiga Dercy. Eterna.
.

Amigo é amigo, filho da puta é filho da puta.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

O Dicionário das Mães

Eu e outros membros do clã dos Francelinos temos um projeto do tempo do Ari Pandorga, que eu não sei se tem parentesco com a saudosa Pandorga, figura folclórica, ébria contumaz, que caiu na água e morreu afogada numa noite ao se abaixar pra urinar na beira do cais. O cais fica na Capital Histórica de Santa Catarina, assim como a sede do clã. O tal projeto é a publicação do Dicionário das Mães (e avós e tias e vizinhas e velhas da noveninha da dona Silvalina ou da missa de domingo de manhã na Roseta). Sempre adiei este projeto porque as palavras e expressões idiomáticas são incontáveis e não sabia por onde começar. Até que resolvi anotá-las à medida que iam surgindo nas conversas com meus conterrâneos. Seguem alguns verbetes selecionados. Não sou filólogo, portanto desconheço as origens ocultas desses vocábulos, que devem remontar ao tempo da construção da casa de Anita. Onde, aliás, ela nunca morou, apenas se vestiu pra casar. Aprendi com Mamãe Oliveira.
A gente não deve correr do bicho sem ver o pêlo - quem não arrisca, não petisca
Andar um eito - andar muito
Cabeça de osso pra sopa - pessoa avoada, que não presta atenção nas coisas.
Caralho da Emília! - imprecação usada em qualquer situação
Comeu cobra e não tomou água - expeliu gases intestinais com odor insuportável
Difícil pro ceguinho - constatação óbvia, semelhante à antiga “descobriu a pólvora” (expressão irônica)
Eu conheço o meu eleitorado - eu conheço os meus, eu sei como eles vão se comportar (a família, por exemplo)
Eu negaceei - eu fiquei de olho, à espreita
Isso dá em penca ou dá em cacho - palavra esquisita que a pessoa não tem a menor idéia do que seja
Mas será o cabrito? - Mas será possível? (quando a pessoa está incomodada)
Ô, seu diano - ô, seu diabo (sem invocar o tinhoso)
Ou calça de veludo ou cu de fora - ou uma coisa ou outra
Pára com essa barda - pára com essa mania
Tá de cegonha - está grávida
Tava falando cá com meus botões - estava falando sozinho
Tá todo apaixonado - está todo triste e choroso (porque se machucou, por exemplo)
Tu não conhece a Adelaide - tu não sabes com quem estás te metendo
Vai cachimbar formiga - não me estressa
Vai dar o porco - algo nada bom acontecerá
Vai dormir, vinagre - vai dormir e pára de me incomodar
Vocês não têm bandeira - vocês não tem critério, uma hora fazem/dizem uma coisa, outra hora fazem/dizem outra

Vem lavar a xexeca, Dayana!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Lindo balão azul

(Guilherme Arantes)
Eu vivo sempre no mundo da lua
Porque sou um cientista,
o meu papo é futurista,
é lunático
Eu vivo sempre no mundo da lua
Tenho alma de artista
sou um gênio sonhador
e romântico
Eu vivo sempre no mundo da lua
Porque sou aventureiro
desde o meu primeiro passo
pro infinito
Eu vivo sempre no mundo da lua
Porque sou inteligente
e se você quer vir com a gente,
venha que será um barato
Pegar carona nessa cauda de cometa,
ver a Via Láctea, estrada tão bonita
Brincar de esconde-esconde numa nebulosa
Voltar pra casa, nosso lindo balão azul

O mundo fica bem mais divertido

quarta-feira, 2 de julho de 2008

A Grande (Vara da) Família

No “Dicionário dos Lugares Imaginários”, o escritor canadense-argentino Alberto Manguel descreve em forma de verbetes enorme gama de localidades produzidas pela inventividade humana em séculos de literatura, da Atlântida a Lilliput, da Terra do Nunca ao País de Oz, passando pela Terra Média, que fica no meio, pois se é média é a média entre uma coisa e outra, como faria questão de frisar o Papai Smurf, genitor da Pequenininha. A edição brasileira traz o Sítio do Pica-pau Amarelo e a Pasárgada, onde sou amigo do rei. A lista não é exaustiva, pois muitos lugares até recentemente não haviam constado em qualquer obra literária, como a Ilha das Maravilhas (não confundir com o país de mesmo nome), a República das Pessoas que Escrevem Assim e a lendária Vara da Família de São José.
O Padre Voador não teve oportunidade de conhecer este lugar e, na verdade, ainda que seja um homem de muita fé, provavelmente não acreditaria na sua existência, pois os personagens que ali vivem e os eventos que ali ocorrem vão além do surreal e não podem ser descritos com palavras conhecidas. Dariam um ótimo tema pra um filme do Buñuel, se ele já não tivesse se encontrado com o mal irremediável há décadas. Quem sabe eu não consiga contactá-lo e pedir algumas dicas, coisinhas?
Como Mãe Lilizinha do Canto B é muito ocupada e só atende com hora marcada, apelei pra Dra. Prazeres, a Batista. Seus poderes mediúnicos são vastos, pena que está um pouco caduca e às vezes confunde as coisas. E eu também não facilito, pedindo pra falar com um espírito espanhol sem a presença da Boa pra traduzir.
Chamou um espírito e veio outro, mais chegado. Isso é invocação.
- Olá, quem está aí?
- Bem, eu prefiro não me identificar, é que já faz muito tempo que eu estive na Terra.
- Mas o senhor não pode me dizer pelo menos a sua profissão, a sua inicial?
- Bom, eu era um advogado de descendência árabe...
- Ah, aquele advogado cujo nome começava com Z? Como vai, Doutor Z?
- Bem, Louro, sabe, eu tenho acompanhado de perto a vida da Vara da Família de São José e sei porque eles têm passado por tudo que passam...
- Então conte, Doutor Z, tudo o que o Fórum de São José precisa é de uma boa fofoca.
E ele falou da transmigração da alma, da lei do carma e de porque todas aquelas pessoas foram reunidas pela mão do destino na Vara da Família: para expiar terríveis faltas cometidas em tempos imemoriais.
Em eras remotas, a humanidade resolveu construir uma torre tão alta que alcançasse os céus. Para tal empreitada, contrataram o melhor arquiteto da época, um jovem chamado Oscar Niemeyer, que projetou um estrutura incomparável utilizando a sua recém-inventada técnica das curvas – diferente das formas triangulares tradicionais que ele aplicara em seu complexo arquitetônico do Egito. A obra empregou um número incalculável de trabalhadores de várias procedências, alguns não muito zelosos de seu serviço. Uma mulher de vez em quando saía pra passear e avisava pra não esperarem sua volta. Uma família se desdobrava, trabalhando dia e noite pra alimentar toda aquela gente, com saborosas iguarias. Nessa família, havia uma menina de olhos verdes – mas ela preferia que fossem azuis, pois achava que olho verde é de balaio, todo mundo tem -, que adorava puxar papo com os trabalhadores. Travessa, um dia apertou todos os botões do elevador da torre, só pra sacanear os coitados, que levariam semanas pra subir e descer. A obra parou. Começou um furdunço e ninguém se entendeu mais. E a menina sapeca teve seu castigo séculos depois, indo trabalhar na Vara da Família sob a alcunha de Zóio de Balaio, doravante ZB.
Na época de Abraão, um jovem de aparência nórdica vivia na cosmopolita Gomorra, cidade cheia de gente pecadora, onde rolava muita putaria. Anunciava no jornal local seus serviços de massagem, atendendo hebréias, pagãs e casais, com local no centro. Passava os finais de semana na vizinha Sodoma, com muitas opções de lazer, inclusive bailões freqüentados por pessoas de todas as idades. Eram cidades muito violentas e ele tinha um sem-número de desafetos. Num dia de tempo fechado, percebeu que a primeira gota que caiu não era de água, e sim de fogo. Como pessoa boa que era, tomou uma atitude. Passou um trote para o corpo de bombeiros de Sodoma, o único da região, falando de uma criança que ia ser sacrificada pelo pai na distante Canaã. O velho tinha desistido mas esquecera o menino amarrado em cima de uma pedra e não havia ninguém pra socorrê-lo. Na ausência dos bombeiros, a chuva de fogo e enxofre logo arrasou as duas cidades, e fez-se o caos. Prevenido, o louro pegou suas coisas e se mandou a tempo. Apenas um casal com suas duas filhas foram mais rápidos do que ele, e picaram a mula – ou melhor, a jumenta de Balaão -, avisados pelo Senhor, pois eram os únicos justos entre toda aquela gente.
Em meio à confusão, o louro esbarrou com uma jovem virgem – a única de Sodoma e Gomorra, mas ainda assim pecadora -, que gritava só de sacanagem o nome dos seus vizinhos, por não a terem levado junto. Assim, ele ficou sabendo que o homem se chamava Ló, o qual fazia um saboroso pão, que na verdade era um bolo, o pão-de-ló. A virgem se esgoelava tanto que a mulher de Ló acabou virando-se para trás, contrariando a ordem do Senhor, e transformou-se numa estátua de sal. Sentindo-se vingados, estes dois personagens fizeram um pacto, tornando-se a partir daquele dia sócios em suas atividades obscuras. Renasceram como Marcola, dono de uma “boca” e Tirol, seu braço direito. Tempos depois, ela foi promovida a gerente da “boca” e rebatizada como Parma, e “passava” todos os inimigos de Marcola. Mas nem os lucrativos negócios evitaram que fossem trabalhar na Vara da Família. Há registros de, pelo menos, mais uma sobrevivente da tragédia bíblica.
Os descendentes de Abraão sofreram muito com a escravidão no Egito. O escriba-chefe, um homem de vasta cabeleira, cortava um dobrado pra fazer cumprir os desígnios de faraó e ouvir os muitos pedidos dos súditos. Uma egípcia estressada ia diariamente reclamar que não agüentava mais “essas guria hebréia”, que só ficavam cuidando da vida dela, e que se ele não tomasse uma providência, ela iria direto no faraó. O escriba ouvia, paciente, e se movimentava rápido entre um palácio e outro, andando de meia pelo deserto, sempre acompanhado de seu gato de estimação – animal sagrado naquele país – que o ajudava a supervisionar o trabalho dos escravos. Só parava pra descansar à sombra de um cactus e comer o seu sanduíche natural de papiro e flor de lótus. Um hebreu chato vinha toda hora solicitar audiência com o faraó - que apesar de ser carrancudo recebia todo mundo -, reclamando de tudo quanto era coisa: enchente, chuva de pedra, rãs, gafanhotos, ratos na comida e o escambau. Faraó mandava o escriba resolver e ele ia sempre deixando pra depois. Enquanto isso, o povo hebreu tinha que agüentar aquelas pragas. O escriba renasceu como o Calvo – o nome é auto-explicativo -, guia espiritual da Vara da Família.
No reinado de Salomão, o sábio rei às vezes precisava julgar casos muito difíceis. Certa feita, duas mulheres alegavam serem a mãe de um recém-nascido. O povo reunido fazia um alvoroço e o rei mal conseguia “conjuminar” as idéias. Uma mulher, cuja voz se destacava entre os demais, gritava em favor de uma delas, dizendo que a criança era a cara da vó. Indeciso, o rei chamou sua conselheira loura, que estava atarefada com a quantidade de alimentos que abarrotavam os celeiros reais. Depois de enviar um escravo para as minas do rei Salomão – embora achasse que ele iria atrás das filhas do monarca, que eram umas gatas -, a conselheira sugeriu que as mulheres entrassem num acordo, já que ainda não tinha sido inventado o exame de DNA: cortariam a criança ao meio e cada uma ficaria com metade. E assim foi feito. Diz a Bíblia que o Salomão resolveu a questão de outra maneira, bem mais salomônica, mas essa versão parece ter sido forjada. A conselheira reencarnou como a Escrivoa da Vara da Família, e continua zelando pelos alimentos.
Na Judéia, ao tempo do império romano, numa bela tarde uma judia loura caminhava lépida e fagueira pela rua do comércio de Belém. Entre uma prosa e outra, eis que avistou uma grande placa, escrita em bom aramaico: PERCEVEJOS – ATACADO E VAREJO. Sabedora de uns boatos que corriam sobre uma misteriosa estrela e um tal de messias que nascera numa estrebaria nas imediações, filho de gente da Galiléia – e todo mundo na época sabia que não pode vir boa coisa da Galiléia –, a judia loura, sempre muito zelosa da Torá, resolveu comprar várias e várias caixas de tachinhas. Quase desistiu, porque a atendente fingia que não tinha ninguém no balcão pra ser atendido. Mas finalmente veio algum estagiário atendê-la. Dirigiu-se à estrebaria, na calada da noite. Todos dormiam, inclusive o menino e as vaquinhas, apesar daqueles anjos que não paravam de cantar Gloria in excelsis Deo. Ela já os estava insuportando. As visitas estrangeiras ainda não haviam chegado. Sorrateira, encheu a manjedoura de tachinhas e saiu correndo, antes que a criança começasse a chorar. A judia perversa renasceu séculos depois, novamente loura mas com película, e uma poia, sem a esperteza de outrora, atendendo por muitas alcunhas, sendo a mais conhecida a de Sra. Weltzer.
Muitos anos depois, num domingo de muito calor, uma judia preta, imigrante de terras mais a oeste do Mar Vermelho, decidiu ir à praia. Como o Mar Morto era longe e ela gosta de coisas bem vivas, foi ao rio Jordão mesmo. E sabe como é judeu pobre, tem que levar o frango e a farofa. Mas os mercados estavam muito movimentados com a multidão que vinha atrás de um daqueles profetas malucos do deserto. E esse não era daquele tipo que multiplica pão e peixe, então todo mundo tinha que comprar mesmo. Ela acabou não levando o frango. Lá chegando, esticou uma toalha no chão, tirou a canga e ficou fazendo exposição da figura sob o sol palestino, se engraçando com um escravo etíope que não tinha nada de eunuco. Não fez top less porque o Levítico proibia. Havia uma fila enorme de pessoas esperando pra serem batizadas pelo tal profeta, e ela resolveu não entrar na água, que devia estar uma imundície com todo mundo fazendo as suas sujeiras. Uma mulher reclamava o tempo todo que estava estressada com a demora da fila. Lá pelas tantas, quando um jovem barbudo estava sendo batizado, uma singela pomba desceu dos céus, ficou voando sobre ele, enquanto uma voz em off, parecendo um trovão, vinda não se sabe de onde, falava algumas palavras às quais ela não prestou atenção. A essa altura, com o sol a pino, a fome bateu. Como a judia preta não era chegada a mel silvestre nem a gafanhotos, e a tal pomba tinha pousado a seu lado, não perdeu tempo: fez churrasquinho do Divino. Refeição que lhe custou a reencarnação como a Escura da Vara da Família.
Na capital da Judéia, poucos anos mais tarde, uma mulher iluminada e dotada de poderes mediúnicos cortava um dobrado pra fazer brotar algumas flores e plantas ornamentais nos jardins de seu palacete, no sopé do Monte das Oliveiras, onde nasceram todos os meus antepassados (mas isso não tem nada a ver). Mas também, como que umas plantinhas iam vingar naquela terra seca e infeliz? Só mesmo o cactus, símbolo de vigor que atravessaria os séculos. Como seus dotes botânicos eram muitos conhecidos em toda Jerusalém, foi a ela que o governador Pôncio Pilatos encomendou uma coroa de espinhos para uma execução concorridíssima no feriado da Páscoa. Ela reclamou que era brincadeira um pedido assim em cima da hora, ela cheia de pães ázimos pra cozinhar, cordeiro pra assar, a despensa sem nenhuma erva amarga, e ainda tinha que fazer antes do sábado, porque era proibido trabalhar. É brincadeira! Mas fez a coroa assim mesmo, com muito capricho, afinal foi o governador que mandou. Pediu pra sua assistente levar, mas pra (não) ajudar ela tinha se machucado com os espinhos e pegou um atestado. Mesmo sendo uma iluminada e tendo renascido como a Mãe Lilizinha, esta boa judia teve que cumprir seu carma e trabalhar na Vara da Família, onde fundou o congá conhecido como Canto B.
Enquanto isso, uma pequena multidão se aglomerava na frente do palácio de Pôncio. Uma jovem loura, magra que dava até nojo nas hebréias invejosas, e membro de uma seita pouco conhecida na época, a Seita dos Ceticozinhos - pequenos céticos, pessoas de pouca fé porque fé demais não cheira bem –, puxava o coro dos pobres, em resposta às indagações do governador: “Não há outro rei senão César! Crucifica-o!”. Uma judia preta ao seu lado emendou, pois era muito dadivosa e estava pegando um sujeito antes dele ser preso: “Solte Barrabás!”. Aquela que tinha pego atestado por causa do espinho, naturalmente tinha ido ver a arruaça, e gritava mais alto que todos: “Ele não! Solte Barnabé!” Alguém a corrigiu: “É Barrabás!” E ela: “É tudo a mesma coisa.” Quando o réu foi apresentado ao povo, com uma coroa de espinhos na cabeça, a judiazinha loura sem coração, louca pra ver o Gólgota pegar fogo, atiçava os outros: “Crucifica-o! Crucifica-o!” E assim aquele justo foi condenado à cruz. A multidão acompanhou a procissão, ouvindo a banda e o lamento da Verônica, rumo ao Hospital de Caridade (digo, ao Calvário). Não contente, aquele encosto seco ainda calçou o Filho do Homem por três vezes na subida do morro, fazendo-o ir ao chão. Hoje paga seus pecados pela segunda vez na Vara da Família, atendendo quando chamada de Sinhá Loura.
A Avó da Neta não tem carma. Ela é o carma de todos eles. E de qualquer forma, não pode expiar suas faltas nas sucessivas encarnações, pois só teve uma até agora, a única, haja vista tratar-se de um ser de idade incalculável, rivalizando com a própria Dercy Gonçalves. Sua história é muito longa e será contada oportunamente.
Tais foram as revelações do Doutor Z. E tem gente que diz que jogou pedra na cruz ou colou chiclete debaixo da mesa da santa ceia.

Rá!

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Eu, Dercy, há dez mil anos atrás

TOMO II
Com Silvio Santos, o Sumo-Sacerdote do Baú, Dercy pariu as criaturas medonhas e abomináveis conhecidas como os Jurados, líderes do culto chamado “Show de Calouros”, dos quais os maiores expoentes eram Pedro de Lara e Araci de Almeida. Com Araci de Almeida, pariu a Marlene Mattos. E ainda com Silvio Santos, Dercy pariu uma voz desprovida de matéria muito apegada ao pai, que foi batizada de Lombardi.
Como Silvio passava por dificuldades financeiras trabalhando de camelô, Dercy inventou o carnê do baú para tirá-lo do aperto. Ele enriqueceu e lhe prometeu a casa própria, desde que ela ficasse em dia com as mensalidades, mas nunca cumpriu. Em segredo, Dercy adotou uma criança e transmitiu-lhe todos os seus conhecimentos. Anos mais tarde, essa menina seria o instrumento da vingança de Dercy contra Silvio, contando-lhe a piada do bambu, ensinada por Dercy. Mas Silvio Santos era mais esperto e preparou uma câmera escondida com Ruth Roncy, expondo as vergonhas de Dercy. Mas como ela era sem-vergonha e boca suja, não adiantou nada.
Desde então fizeram um pacto. Para cada palavrão dito por Dercy Gonçalves, Silvio Santos ganha um cruzeiro, ou a moeda em vigor na época, em barras de ouro que valem mais do que dinheiro, oieee...
Com Roberto Marinho, Dercy pariu Hebe Camargo, Lolita Rodrigues, Nair Belo, Renato Aragão, Cid Moreira e Léo Batista.
Hebe e Silvio Santos geraram o Chaves e o Gugu. Chaves e seus vizinhos morreram num acidente de avião e ficaram presos a este plano da existência, razão pela qual continuam se manifestando diariamente há décadas. Recentemente, inspiraram uma série de grande sucesso da televisão norte-americana. Gugu afeiçoou-se ao pintinho amarelinho e não gerou descendência.
Lolita Rodrigues inaugurou a TV Tupi e é a única pessoa viva a lembrar do hino da televisão brasileira, criada por Assis Chateaubriand por sugestão de Dercy, para que ela pudesse espalhar seus palavrões por todo o país.
Com Jamelão, o jovem, Dercy pariu Elza Soares, Mussum, Glória Maria e Zulu, a mulata que não ri. Ela chupou manga e deixou as sementes caírem na Estação Primeira, fundando a conhecida escola de samba. Tempos depois, rompeu com eles e foi desfilar com os peitos à mostra na Viradouro.
Cansada de viver em Madalena, Dercy saiu com a primeira caravana do Clube do Bolinha, levando consigo sua dileta filha Zulu, a mulata que não ri. Com Edson Cury, o Bolinha, Dercy pariu Golias, Fafy Siqueira, Zacarias e dona Wilma. Dona Wilma não pariu ninguém e, por isso, roubou o Pedrinho. Era final de ano e todos passaram o Réveillon no Ilha Porchat.
Nair Belo constituiu várias famílias e achava muita graça nisso. Com Golias, pariu a Família Trappo e o Carlos Alberto de Nóbrega. Com Rogério Cardoso, pariu a Grande Família. Para não ficar incomodando em casa, Dercy matriculou o genro, sob o pseudônimo de Rolando Lero, na Escolinha do Professor Raimundo, onde conheceu este último, com quem teve numerosa descendência. Como o salário dele era pequeno e não podiam sustentá-los, Dercy abandonou todos na roda dos excluídos, que ainda funcionava naquela época. Muitíssimo tempo depois, o Senhor chamou Nair Belo, que no início se fez de surda e não quis ouvi-lo, mas acabou cedendo porque a zorra seria total.
Cid Moreira e Léo Batista ficaram amigos de Sérgio Chapelin, que gostava muito de programas sobre animais, e adotaram a Zebrinha do Fantástico, que logo aprendeu a falar “Boa noite”.
Com Beto Carrero, Dercy pariu Dedé Santana. Ele se uniu a Didi, Mussum e Zacarias e criaram Os Trapalhões, que destruíram de vez o cinema nacional. Numa experiência genética fracassada e feita em segredo, pois era proibido o uso de células-tronco embrionárias, Os Trapalhões geraram o Sargento Pincel. Zacarias e Mussum morreram e, apesar de idas e vindas, Didi e Dedé continuaram unidos. Na vida é tão bom ter amigo.
Com Fidel Castro gerou o asqueroso e terrível Lula, uma anomalia sanguessuga que vive nas profundezas do mar, assemelha-se a um sapo barbudo e tem a língua presa. Este ser tem o poder maléfico de expressar-se por meio de metáforas sobre futebol e de nunca, em hipótese alguma, perder sua popularidade.
Todos esses eventos nada mais foram do que a preparação para sua maior obra: as novelas da TV Manchete, em que Dercy pretendia interpretar Dona Beija, Juma Marruá, Xica da Silva e cantar o Canto das Sereias, sendo porém recusada por questões estéticas. Por vingança, ela exigiu que Silvio Santos retirasse as fitas beta do fundo do Baú e as reprisasse incansavelmente, logo após o Chaves.
Dercy pariu mais de 500 mil crianças ao longo de seus incontáveis anos de vida, mas pelo menos umas 100 mil morreram ao nascer, por ver o rosto da mãe. Todos aqueles que enumeram os filhos de Dercy enlouquecem. Esse panteão de criaturas de pesadelo é conhecido pelo nome coletivo de FILHOS DA PUTA.
Por incrível que pareça, Dercy nunca havia se entregado aos prazeres sensuais do carnaval baiano. Após recuperar-se de um acidente automobilístico em que, obviamente, não sofreu um arranhão, Dercy passou um ano em Santo Amaro da Purificação, BA, comemorando o aniversário de sua amiga de infância, dona Canô Veloso. Lá também reencontrou aquele menino muito inteligente, Oscar Niemeyer, com quem ela se divertia em tenra idade, construindo cidades de concreto armado na praia.
Diz a lenda que, para saber a idade de Dercy, seria preciso contar o número de rugas em todo seu corpo, número este que aumenta de milênio em milênio. E quem conseguir fazê-lo, absorve seu dom da imortalidade. Porém, nenhum olho humano pode observar aquele corpo, e nenhum ser vivo do universo tem mente o suficiente pra gravar tamanha quantidade de rugas. Além disso, a cada segundo perdido por ter que reiniciar a contagem, zilhões de rugas novas aparecem. Os atuais métodos de análise de DNA e datação por carbono-14 são igualmente incapazes de chegar a um resultado preciso, pois mesmo com toda a evolução da cibernética, não há computadores capazes de fazerem o cálculo.
Meditando em templos do paganismo, os iluminados Mestre Yoda, Nostradamus, Walter Mercado, Chica da Silva Xavier e Mãe Lilizinha do Canto B capturaram um vislumbre do mais terrível e apoteótico futuro já previsto, no qual Dercy Gonçalves morria. Virgem. Tal futuro, segundo eles, significaria o Fim dos Tempos, pois eles mesmos profetizaram: “666 segundos antes do fim de tudo, Dercy Gonçalves, O Ser Eterno, irá morrer.” Dizem que somente o Padre Voador pode atestar a veracidade dessa profecia, pois ele viajou até o Fim dos Tempos, mas infelizmente seu paradeiro atual é desconhecido. É possível que Dercy o tenha mandado pra PUTA QUE O PARIU.
(Essas informações foram obtidas das mais diversas fontes, todas antiqüíssimas e fragmentadas. Pode-se citar aqui o Necronomicon, livro gentilmente divulgado na nuvem virtual pelos abnegados pesquisadores da Desciclopédia; as Memórias da Avó da Neta, ainda em manuscrito, pois nenhuma editora aceitou publicar tantos volumes (essa obra deve ser aceita com cautela, pois muitas informações podem ter sido falseadas, dada a pré-histórica rivalidade entre as duas); e partes só recentemente traduzidas da epopéia de Gilgamesh, dos evangelhos apócrifos, do Silmarillion e do romance Guerra e Paz.)

Só vou morrer quando eu quiser

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Eu, Dercy, há dez mil anos atrás

TOMO I
“Quem me criou foi o tempo, foi o ar. Ninguém me criou. Aprendi como as galinhas, ciscando, o que não me fazia sofrer eu achava bom.” Esta declaração da própria Dercy Gonçalves é a única referência sobre sua verdadeira origem, supondo-se que seja confiável, uma vez que ela é mais velha do que a própria idéia de registrar a vida de alguém.
Dercy Palpatine Ramsés Tutankhamon Windsor Abravanel Marinho Castro Orleães e Bragança de Éden Gonçalves tem o poder da imortalidade e antigüidade, conhecendo toda a história do universo, visto que ela a presenciou. Possui também o dom de xingar 4 mil palavrões em 30 segundos, permitindo-lhe deixar seus inimigos com a auto-estima lá embaixo. Alimenta-se exclusivamente de ambrosia e néctar. Sua única limitação física é uma ligeira dificuldade auditiva, adquirida por ter ouvido um grande barulho, que depois ela soube tratar-se do Big Bang. Na ocasião, ela tentou gritar mais alto, mandando o responsável SE FUDER NA CASA DO CARALHO!
Das muitas coisas passadas e escritas, dos infinitos horrores deste mundo, é dito que Ela, A dos Muitos Nomes, Mãe de Mil Abominações, Aquela cuja Boca é a Cloaca do Mundo, A Morta que Não Morre, cujo nome conhecido torna loucos aqueles que o proferem, Dercy da Boca Imunda, proferiu a primeira palavra, PORRA, e começou a parir sua progênie medonha num tempo antes do tempo.
Foi a pioneira na taxonomia dos órgãos sexuais, tendo orientado a primeira cópula entre Adão e Eva. Como sua esposa andava se engraçando com uma certa serpente, Adão decidiu conhecer Dercy no sentido bíblico. Dessa relação nasceram Nod e todos os habitantes da terra de Nod, os Homens que Dizem Ni e os Lumpa-Lumpas. Assim, Caim poderia povoar a terra algum tempo depois sem precisar cometer incesto. Séculos mais tarde, Dercy namorou um dos descendentes de Adão, Matusalém, o moço.
Como ainda não conhecia o real alcance de seu maior poder, a imortalidade, Dercy temeu morrer afogada no dilúvio, e pediu a Noé para entrar na arca. Mas a Avó da Neta, que ajudou Noé a separar os casais de animais que seriam salvos, há séculos tinha uma rixa com Dercy, pois contestava o título de ser vivente mais antigo do planeta, e não a deixou embarcar. Dercy mandou-a TOMAR NO CU e salvou-se em uma jangada, pois ela sabia muito bem com quantos paus se fazia. Foi parar numa grande ilha que batizou de Atlântida, que milênios mais tarde lhe inspiraria a criar uma indústria cinematográfica brasileira.
Acreditava-se que ela era a mãe do primeiro highlander a colocar os pés neste mundo, e que a única forma de derrotá-la seria cortando a sua cabeça e jogando-a no fogo da perdição de Sauron. Com o passar dos séculos, após pararem de se enfrentar eternamente na esperança de se matarem (mesmo sendo imortais) e analisarem sua situação, os highlanders perceberam que o destino de cada um estava feito, e a profecia, cumprida: só haveria um. No caso, uma. Entretanto, um grupo dissidente tentou se unir para matar Dercy, achando que ela fosse mesmo um deles. Ao tentarem, falharam, pois suas espadas não a feriam: Dercy nascera antes das leis da física, e sua composição química repelia qualquer matéria ou energia, por serem coisas muito modernas se comparadas à sua pele.
Com Satã Goss, que tinha o poder de enfurecer os seres e transformá-los em monstros incontroláveis, Dercy pariu Darth Vader. Em seguida, mandou construir a Estrela da Morte e se tornou o Imperador, sendo muitos milênios depois destronada pelos Jedi, e indo refugiar-se em uma pirâmide no Terceiro Mundo, onde permaneceu outros tantos milênios até ser acordada por Escamoso, Simiano e Chacal. Para puni-los, invocava os espíritos do mal que transformavam aquela forma decadente em Mumm-Ra, o Ser Eterno. Mas o encantamento não era duradouro e ela logo voltava à velha forma.
Dirigiu-se então ao recém fundado Egito, onde inspirou a técnica da mumificação, tendo servido de modelo por várias dinastias, e partilhado da cama de todos os faraós, inclusive da faraona Hatshepsut, a barbada. Sua fama correu o mundo e logo foi convidada à corte do rei Nabucodonosor, para dirigir a mais famosa casa de massagens da Babilônia, que lhe deu fama de cafetina. Mas Dercy começou a ter vertigens com aqueles jardins suspensos, que eram altos pra CARALHO, e mandou o rei Nabuco tomar NABUCO dele.
Na Atenas de Péricles, Dercy iniciou sua carreira artística, atuando em Antígona, de Sófocles. “Não é antigona, PORRA!”, dizia nas entrevistas na Ágora. Recusou o papel-título de “Lisístrata ou A Greve do Sexo”, de Aristófanes, por ser contra seus princípios, o que lhe levou ao ostracismo.
Retornou ao Egito, envolvendo-se em novas polêmicas amorosas. Sua maior rival foi a rainha Cléo, pois esta ganhou os corações dos generais romanos Júlio César Cardematori e Marco Antonio. Dercy nunca a perdoou por isso e, disfarçada de empregada, entregou à sua rival um cesto cheio de cobras venenosas, dizendo serem morangos silvestres da Babilônia, causando a sua suposta morte, fato este controverso.
Para escapar da prisão perpétua, o que seria um martírio infinito, refugiou-se em sua pirâmide, ressurgindo séculos depois na corte de Elizabeth I da Inglaterra, onde foi ama de leite das jovens Rainha Vitória, Rainha Mãe e Rainha Elizabeth II, mulheres de saúde frágil que não viveriam muito.
Depois de muitos séculos fora dos palcos, Dercy retomou a carreira de atriz, participando da inauguração do Moulin Rouge, em Paris. Lá conheceu um de seus mais ilustres amantes, D. Pedro II, ex-Imperador do Brasil, aquele que era mais velho do que o pai. Mas quem foi rei nunca perde a majestade, e ele era muito apegado a uma coroa. Não sobreviveu muito tempo, o que deixou Dercy entristecida.
Depois de um porre de absinto, Dercy acordou na cama dos irmãos Lumière. Eles acabaram inventando o cinematógrafo a seu pedido, porque ela queria muito rever as cenas de sexo ardente que fazia com eles. Dessa relação nasceu Olivia de Havilland, que cedo foi morar em Hollywood, mudando-se depois para a Geórgia, onde se uniu aos confederados.
Por ser uma precursora do cinema, Dercy recebeu alguns convites naquela época de ouro. No início fez figuração em filmes como “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin (filme do qual, segundo rumores, correu o risco de ser afastada várias vezes por sua inaptidão para o cinema-mudo) e, mais tarde, ao alcançar o estrelato, protagonizou blockbusters como “A Múmia” e a seqüência “O Retorno da Múmia”, “A Noiva de Frankenstein” e “A Noiva Cadáver”, além de ter feito ponta como a mãe de Ben Hur, alcançando grande sucesso. Infelizmente, não demorou muito para que a fama subisse à sua cabeça e para que ela mandasse Hollywood inteira pra PUTA QUE O PARIU, deixando alguns executivos estupefatos e encerrando de vez sua carreira no cinema internacional.
Jogada na sarjeta, Dercy foi encontrada por um de seus maiores fãs, Santos Dumont, que a convidou para ser aeromoça do 14-Bis (apesar da contradição do termo). Assim, ela chegou ao Brasil no início do século XX, indo parar na cidade de Santa Maria Madalena, RJ, onde, com a ajuda de Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, forjou uma certidão de nascimento, com a data de 23 de junho de 1907 e o nome de Dolores Gonçalves Costa, para regularizar sua situação jurídica.
Em seguida, Dercy e Macunaíma decidiram impulsionar as artes no Brasil, e inventaram a Semana de Arte Moderna, o movimento antropofágico (onde todo mundo comia todo mundo), o teatro de revista, a pornochanchada, a radionovela e a dança do maxixe (um homem no meio com duas mulheres fazendo sanduíche). Como a essa altura já não tinha mais nenhum descendente vivo, exceção feita a Olivia de Havilland, Dercy resolveu procurar seres tão antigos quanto ela, que pudessem lhe dar filhos para povoar a televisão brasileira, que ela pretendia criar.
Repórter Esso, testemunha ocular da história...

Xô, perereca!