Em muitos lugares do país, os calouros são chamados de bixos (com x, pra manter a tradição de escrever errado). Em Santa Catarina, calouro é calouro mesmo. Mas na minha época de calourice bem que tentamos, em várias ocasiões, encontrar o nosso lado selvagem. Tudo culpa da Morena Tropicana que, tendo passado uma temporada entre as branquelas temperadas dos "isteites", ensinou-nos um modismo. Mais uma contribuição do imperialismo ianque para destruir os nossos valores culturais.
Em tenra infância, brincava-se de "ovo choco", aquela brincadeira em que todos sentam em roda no chão e uma criança fica dando voltas com uma pedra ou outro objeto pequeno na mão (fazendo as vezes de ovo), entoando um mantra:
Criança: Ovo choco!
Todos: Corococó!
Criança: A galinha quer por.
Todos: Não deve dizer.
Criança: Ela põe amanhã?
Todos: Corococó!
Criança: A galinha quer por.
Todos: Não deve dizer.
Criança: Ela põe amanhã?
Todos: Não sei, vou ver. Na hora do "não sei, vou ver", todos olhavam pra trás pra ver se a criança tinha colocado a pedra (o ovo) atrás dela. Senão, ela ia repetindo a cantiga. Quando alguém era presenteado com o ovo, saía correndo atrás dela, e não lembro mais o que acontecia. Era uma cantiga de roda, só que sem rodar. Uma das coisas mais básicas da vida (mas uma consulta ao Google só traz uma versão que desconheço completamente), mas que compreende um dos casos mais antigos de "músicas que eu não entendo a letra" da minha vida.
É óbvio que a galinha queria pôr os ovos, não há outra interpretação possível, e todo mundo entendia isso. Mas eu - e, como descobri anos mais tarde, minha amiga Pecaaado também - entendia "a galinha quepô". Algo assim como um tipo de galinha: galinha d'angola, galinha caipira, galinha "quepô"! Mas eu entendia que a galinha queria pôr os ovos, não era tão retardado assim.
Mas os tempos da faculdade eram outros, estávamos em 1998 - que forma um único bloco com 1999, conhecido pelos historiadores do direito como "o ano que não acabava nunca" -, éramos felizes, sabíamos e por isso mesmo não nos importávamos de brincar em público e a céu aberto de algo novo para nós, o incomparável e descoordenado "Let's play zoo".
Não há como descrever o jogo e, de qualquer forma, era só para iniciados. A Pequenininha, já naquela época muito sensata, não participava. Os demais eram fiéis ao ritual. A maioria não tinha coordenação motora, a outros faltava coordenação mental. Eu era sempre o urso e na seqüência chamava a girafa, porque eu nunca pensava rápido o suficiente em outro bicho. Porco, coelho, bode (a diferença dos chifres do bode para as orelhas do coelho era de uma sutileza percebida por poucos), guaxinim, peixe (o mais difícil), unicórnio! Mas ninguém nunca fez a galinha "quepô". Lamentável esquecimento.
De novo: One, two, let's play zoo!
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