quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Civilização Marcantoniana

Tudo começou quando o gênio inventivo de Albert Einstein, humilhado pelo seu repudiado rival Reed Richards, decidiu construir uma máquina do tempo para apagar o Homem Borracha da história. A máquina consistia no super sopro do Super Homem, ajudado pelo Homem Hora e pelo Doutor Meia-Noite. A história não explica direito esta parte; sabe-se apenas que o Super Homem na hora espirrou e o Homem Hora estava com o relógio atrasado: Einstein foi parar em outra realidade, na qual teve um filho com a versão feminina do gênio da lâmpada. Após, Einstein escolheu os três desejos que ficaram conhecidos como “As Três Nobres Vontades Einstânicas”. (Não foram encontrados documentos verossímeis sobre o fato. Especula-se que uma das vontades teria sido voltar para casa com a amada, haja vista o desaparecimento do casal.)
No planeta Colorido, a reprodução [de Einstein com sua esposa] ocorreu uma única vez. O indivíduo evoluiu rapidamente até a idade de 21 anos, passando a vagar sem destino pensando em não praticar esportes. Este ser solitário despertou a atenção da entidade cósmica Chocolactus, gigantesco ser de armadura marrom que estava preocupado com o avanço dos portugueses pelo litoral. Decidiu então colonizar aquelas terras, clonando inúmeras vezes aquele que viria a ser chamado de Marco O Clonado, ou simplesmente Platão da Terra Paralela.
No ano de 1614, uma embarcação portuguesa chegou até a costa da então vila de Nossa Senhora do Conhecimento Eterno, atual Cranius (capital do Império Marcantoniano). Os portugueses ficaram perplexos quando se depararam com aquelas criaturas estranhas: homenzinhos vestidos de advogado e segurando uma caneta com o punho fechado. Os relatos do pracinha português Manoel da Nóbrega refletem dificuldades de relacionamento com os habitantes: “Chegamos perto deles, oferecemos alguns adereços, nos chamaram de tolos e deram as costas.”
Aquela terra era muito desenvolvida: pontes metálicas, prédios enormes, vários teatros e museus, não havia campos de futebol e nem de concentração, não existiam metais preciosos e a alimentação vinha da inspiração e de pequenas palavras ricas em sabedoria que flutuavam no ar, isso antes do McDonald's ali se instalar.
Nem tudo era perfeito, o medo e a revolta brilhavam como luz no semblante de Marco O Maléfico, homem inescrupuloso que adorava falar por enigmas e ludibriar a população com seus discursos de palavras desconhecidas e sua famigerada Teoria do Silêncio.
Conhecendo melhor os marcantonianos:
Literatura: contribuíram imensamente na poesia com a publicação do livro “Passos ligeiros, ligeiros passos”.
Herói: O Senhor das Reflexões Humanas ou qualquer outro que não venha com o kit básico.
Religião: seguidores do livro sagrado com todos os ensinamentos, o Dicionário Aurélio.
Língua: poliglotas por natureza e adeptos da linguagem universal do pensamento.
Os pergaminhos antigos estão manchados com as duas grandes guerras do Planeta Colorido:
1ª Guerra Marcantoniana: no ano de 1693, o território foi invadido pelas esquadras da mercenária dos doze mares, Silmara Boca Que Não Cala, mulher terrível que queria levar os inóspitos habitantes para o mau caminho.
2ª Guerra Marcantoniana: entrou em choque com a vizinha civilização Carlaniana, mulheres que não falavam, eram muito magras, mas tiravam muitas notas 10. Os marcantonianos, após séculos de batalhas, conseguiram sobrepujar suas adversárias na famosa Batalha da Decoreba. Muitos livros foram perdidos para sempre. O período ficou conhecido como Armagedom ou Recuperação.
A civilização Marcantoniana conseguiu rapidamente reerguer-se. Anexou o território vizinho e outros povoados, graças à política expansionista de Marco O Visionário, auxiliado por Marco O Preguiçoso, inventor da rede de dormir. Houve um período designado Fase Aurífera do Império, com a criação do primeiro medidor de QI da história, e do primeiro código de leis, privilegiando os cidadãos que conseguem estudar sábado à noite.
O período passou e logo veio a Fase Negra. Os marcantonianos começaram a abusar dos escravos, pois estes tinham capacidade intelectual inferior, apesar de serem mais robustos (exceção feita aos carlanianos). A crueldade era tanta e tanto era que os escravos eram chicoteados em praça pública e chamados de mutantes, pois tinham o gene E alterado, resultando em pessoas desprezíveis que adoravam pagode e a cerveja do Reino da Bavária.
Nesta época surgiram alguns falsos profetas, como Marco O Vidente. Ele acreditava que Chocolactus viria dos céus para devorar tudo o que existe. A data do fim do planeta Colorido passou em branco e Marco O Vidente foi internado no asilo Arkham, junto ao Maníaco do Parque de Diversões, um cara que provocava vômitos na montanha russa e atropelava as pessoas com o carrinho de choque.
Muita corrupção veio à tona com o influente Marco Antonio Magalhães, político que mandava o sol embora para ninguém ver a sujeira, e Marco Antonio de Mello, político inveterado e inventor do gel. Mais ou menos nessa época, uma parcela significativa da população entrou em estado vegetativo devido à peste branca, doença que atacava os livros deixando-os sem palavras. Mais tarde, descobriu-se tratar-se do vírus Apagão, criado pelo pirata do vale do silício, o hacker Phill Gates, versão perversa do multibilionário de outra terra.
O golpe de misericórdia veio da tribo de selvagens conhecidos como Rogerius Serius, quando estes queimaram o Coliseu da capital Cranius com todos os testes e trabalhos dos marcantonianos. Os selvagens eram valorosos guerreiros letrados e recitavam versos machadianos antes de matar. Eram muito frios e olhavam tudo ao mesmo tempo com seus olhos cobertos com um poderoso e impenetrável óculos escuro.
(Esta narrativa épica foi soprada pelas musas aos ouvidos de um amigo da Terra Querida há dez anos, para celebrar um reencontro depois de longa data. É um dos meus amigos mais antigos e a única pessoa além de mim capaz de lembrar de determinados fatos e pessoas enterrados nas areias do Mar Grosso ou ocultos para sempre pelas brumas enfeitiçadas da bruxa Adriana. Por essa razão, doravante o chamarei “O Imemorial”. Estes fatos não constam das Memórias da Avó da Neta, que lhes emprestariam maior veracidade histórica. Não tenho notícias de que ela tenha andado por aquelas paragens à época.
Nota: 1) Este texto, em comemoração ao meu aniversário, também poderia ser intitulado “2 + 3”, pois foi postado 3 dias após o previsto. 2) Preferiu-se a grafia “marcantoniano”, mais moderna, em comparação com as variações “marcoantoniano” e “marco antoniano”. O restante foi adaptado conforme a atual ortografia da língua portuguesa.)

E=mc²

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