quarta-feira, 26 de março de 2008

A caravela amarela - interlúdio

UM PAÍS DIFÍCIL DE ENCONTRAR
Existe um país difícil de encontrar,
é um lugar feliz, os smurfs moram lá
Nós somos os smurfs,
lá lá lá lá lá lá,
dá pra desconfiar pelo jeito de cantar
Vem pro nosso país
pra poder ser feliz
À esquerda tem um vale, você logo vai encontrar
Não é fácil de achar esse caminho não,
quem quiser nos encontrar aprenda essa canção
Pode até desafinar, a gente não ri não,
dó ré mi fá sol si lá, essa é a smurf canção
Vem pro nosso país
pra poder ser feliz
Faça igual ao Papai Smurf e cante pra tristeza espantar
(Das profundezas do seu castelo o terrível Gargamel apronta mil armadilhas para agarrar os smurfs. Feitiços, truques sujos, o que importa é acabar com eles...
Gargamel: Qualquer dia eu ainda pego esses malditos smurfs hahaha...
Enquanto isso, o seu fiel companheiro, o gato Cruel, só de ouvir falar em smurfs, se arrepia todo...
Gargamel: Ah se eu pego um deles!)
Nós somos os smurfs lá lá lá lá lá lá...

Falta muito?

quarta-feira, 19 de março de 2008

A caravela amarela - 10 a 13/01/2008

AMSTERDAM - A HAIA - ROTTERDAM - DELFT - ROTTERDAM - BRUXELAS
Dizem que farinha de mandioca cria gente tola. Tenho conhecido na vida várias pessoas desse tipo, que se acabam em pratadas e mais pratadas de pirão d'água. Muitos deles são atraídos para a terra de onde toda a farinha emana. (Não a de mandioca, coisa de índio, que preferem inteira, mas a idéia é válida assim mesmo.) Os moinhos, ah os moinhos! Levei dias pra ver um, porque era preciso sair de Amsterdam. Também não vi tulipas, quem mandou ir no inverno. Mas vi a Jeannie, que ainda deve ser um gênio, dando explicações engraçadinhas sobre queijos. Quase fiz um pedido, mas vai que ela se apega. Com tanta coisa na mochila, não tinha espaço pra guardar a garrafa onde ela mora.
Nesse dia eu estava num ônibus com uma guia tetra-língüe, que falava inglês, francês e espanhol com sotaques perfeitos, deixando de fora, obviamente, o idioma local. Num primeiro momento achei que fosse uma mistura da Marli Marlei, a jurássica e empalhada jurada do Raul Gil, com a atriz norte-americana Lauren Bacall (cujo nome só fui lembrar muitos dias depois). Mas logo me dei conta que era a Geórgia Gomide, clássica atriz brasileira, perdida nos recantos neerlandeses.
Não vi a Ana Paula Arósio cruzando os canais da capital que não é sede de governo, o que estranhei, porque eu jurava que a Hilda Furacão tinha ido trabalhar no Red Light District. Páginas da Vida, sei... Talvez por isso, e contrariando o resto do mundo, não gostei muito da cidade.
No dia seguinte, passei algumas horas na Haia, sede de governo que não é a capital, onde vive Sua Majestade, a Rainha Beatrix (?!), cidade com uns prédios moderninhos onde não tem nada pra fazer além de ver o quadro que o Colin Firth pintou da Scarlett Johansson, com um pano amarelo amarrado no cabelo e um brinco de pérola. Tentei um circuito "instituições do Direito Internacional", mas a Corte Internacional de Justiça, que funciona num palácio belíssimo, não estava aberta à visitação. Felizmente, na volta pra estação de trem, tive o privilégio de ver a Bibi Ferreira andando de bicicleta. Que atriz! Perfeita no papel de cidadã holandesa em dia comum.
Por sorte eu não tinha pressa pra chegar em Rotterdam, porque perdi o primeiro trem esperando os caras da estação abrirem o guarda-volumes moderníssimo, que tava bichado e não abria, mesmo eu usando o cartão da maneira correta. Mas deu tudo certo e, na mesma noite, comi um sanduíche num KFC (Kentucky Fried Chicken), um genérico do McDonalds onde todos os funcionários eram surinamitas.
Nos dois dias seguintes, dediquei-me a explorar, alternando chuva e sol, aquela cidade belíssima, um dos maiores portos do mundo, com recortes geográficos impressionantes, pontes encantadoras, prédios moderníssimos, avenidas largas, com muito mais cara de cidade grande que Amsterdam. E um World Trade Center de uma única torre, que tinha o banheiro mais chique em que já entrei (dica do Guia Criativo para o Viajante Independente na Europa, R$ 74,00 no Submarino). O tal do Erasmo morava bem, pena que a estátua dele seja tão sem gracinha. Deve ter sido o lugar com menos turistas onde passei, um alívio bem-vindo a um turista cansado de fingir que é sociável.
Mas nada era tão legal quanto as casas cubo, um prédio em vários blocos, com apartamentos no formato de, adivinhem, cubos! As pessoas moram lá mesmo e é claro que não podemos entrar na casa delas, a não ser em um, que funciona como museu. Parece bizarro, mas tem 3 andares, é grande e confortável. Eu moraria, fácil. A Confraria dos 3 Quadrados aprovaria.
Caminhando por uma rua qualquer, e debaixo de chuva, entendi os sinais que recebi naqueles dias, vendo tantas celebridades. No chão, quadrados com marcas de mãos e pés, e nomes de famosos. Era a Walk of Fame da cidade. Barry White, B.B. King, David Copperfield (!), Dionne Warwick, Gloria Estefan, Gloria Gaynor, Grace Jones (!), Julio Iglesias, Laura Pausini, Mickey Mouse (!), Ray Charles, Suzanne Vega (que assinou “My name is Luka”), Tina Turner (oh my God!), Mercedes Sosa (madre de Dios!), e uma série de artistas holandeses internacionalmente desconhecidos. Não tinha do Tiesto. Fora isso, tinha de tudo. É, se não pode ir a Hollywood, vá a Rotterdam!
Passada rápida em Delft, cidade medieval, numa manhã de domingo fria, com tudo fechado e protestantes indo pra igreja. Só pra não dizer que não fui. E segui meu rumo, entre desconhecidos. Não consegui autógrafos, mas comprei um postal da Rainha Beatrix, finíssima em sua realeza discreta. A viagem seguiu e os moinhos continuaram dançando e rodando... hum, isso me deu fome.
Tem pão quentinho?

Era uma casa muito engraçada, não tinha nada a ver com nada

quarta-feira, 12 de março de 2008

A caravela amarela - 04 a 09/01/2008

LONDRES - AMSTERDAM - VOLENDAM - AMSTERDAM
Existe um país onde as mulheres são lindas, a cerveja é ótima e o futebol é a paixão nacional.
Existe um país com uma multiplicidade étnica, social e cultural como não se vê em nenhuma outra parte, que recebe amistosamente a vasta comunidade internacional e dá muitas oportunidades aos que falam a sua conhecidíssima língua. Onde a cada esquina se encontra um restaurante indonésio em que se pode almoçar ao som de uma música animada e sensual... a caribenha.
Existe um país onde as pessoas adoram viajar e conhecer lugares exóticos, e onde as agências lucram muito com pacotes turísticos para o... Suriname! E onde todos os “surinamitas” desfavorecidos que não sabem falar inglês vão tentar a vida.
Existe um país conhecido internacionalmente pelo turismo sexual. Aonde moças de todas as procedências vão realizar o seu sonho. Lá chegando, sem dinheiro e sem falar o idioma local (fato deveras curioso por ser tão facilmente assimilável), elas passam por sérias dificuldades e acabam encontrando... a prostituição. Mas exercem esse respeitável ofício com dignidade e conforto, debaixo de um teto, a salvo das intempéries e protegidas por seguranças, ao amparo da lei. As ruas onde trabalham são populares, iluminadas com luzes vermelhas, com vários estabelecimentos comerciais congêneres, como lojas de vídeos pornôs e shows de sexo explícito, que em tudo contribuem para criar um ambiente familiar, freqüentando por homens e mulheres de todas as idades. A maioria dessas donzelas, européias, asiáticas, latino-americanas e principalmente “surinamitas”, não é exatamente “bem apanhada”, mas se esforça para agradar nativos e turistas com simpatia, sorrisos e olhares inocentes.
Existe um país onde o trânsito é caótico, não se sabe o que é rua e o que é calçada, e você tem vários oportunidades de ser atropelado por dia, pelos mais variados e estranhos meios de transportes (bicicletas, carros e uns trenzinhos elétricos monstruosos que aparecem do nada e quase te matam de susto). Ai, que susto!
Por falar nisso, existe um país onde você sempre pode testar, e lá pode mesmo, os ensinamentos de uma certa senhora conhecida do YouTube, mas sempre lembrando: “ah, se fosse o meeeu...”
Existe um país onde meninas sofridas mas muito inteligentes ficam famosas publicando diários, que depois viram filmes e documentários, ainda que postumamente.
Existe um país onde os pintores são geniais e sabem disso. Não querem nem ouvir os críticos e cortam as próprias orelhas.
Existe um país onde os loucos do mundo inteiro se reúnem, o paraíso dos Amigos do Desconstrutor e daqueles que, se o conhecessem, também seriam seus amigos. Onde o amor pela cultura e pela natureza são tão grandes que a tudo dedicam um museu, até mesmo às ervas.
Existe um país onde 12 homens já se reuniram em coffee shops para gravar cenas de um filme famoso e saíram de lá sem lembrar qual era o segredo. Pelo menos o dono do Dampkring gostou, pois seu estabelecimento, em meio a tanta concorrência, ficou conhecido.
Existe um país onde você pode fazer um tour por vilas típicas de pescadores e fazendeiros típicos, visitando fábricas de tamancos típicos, degustando (e enchendo a barriga) com uma grande variedade de queijos típicos, e tendo por guia a irmã perdida da... Geórgia Gomide! Lembram dela? Ah, não tem importância.
Existe um país onde, a qualquer época do ano e com qualquer clima, você sempre pode se maravilhar com a beleza e a multiplicidade de cores das tulipas. Bom, pra falar a verdade, não é bem assim.
Existe um país que bem poderia estar todo debaixo d'água, mas que graças a um eficiente sistema de diques, construído pela garra de um povo guerreiro, elevou-se acima das águas e das dificuldades.
Este país... é a Holanda! Mas Países Baixos, por diversas razões, é um nome bem mais apropriado.
Pense no Suriname. Reze pelo Suriname.

E por trás das vitrines havia a prostituição

quarta-feira, 5 de março de 2008

A caravela amarela - 01 a 03/01/2008

LONDRES
“E olha a hora para quem vai viajar, trabalhar ou estudar.” Todo lagunense que se preza, e também os que não se prezam, como eu, cresceu ouvindo essas palavras - repetidas dia após dia pelo radialista jurássico da Difusora e depois da Garibaldi -, organizou suas vidas e acertou seu relógio por ele. Mais confiável do que o João Vicente, só mesmo o relógio da torre, o pseudo-Big Ben. E assim, buscando o máximo de precisão e uma piada para repetir pelos próximos anos, acertei a hora para quem vai viajar no velho McFly (é o nome do meu relógio de pulso). E achei que estava arrombando. Mas, como diria Jack, vamos por partes.
A propósito, tenho evitado usar essa expressão batidíssima, “como diria Jack”, mas ela pede pra ser utilizada na cidade natal do famigerado Estripador. Fiquei sabendo de um passeio que pode ser feito pelos lugares onde ele matou as suas vítimas, mas meus interesses mórbidos, ao menos dessa vez, não falaram mais alto.
O fato é que passei o New Year tentando me deslocar no meio daquela multidão absurda, indo de um lado pro outro atrás do melhor ângulo pra fotografar os fogos do London Eye. Tudo absolutamente organizado, policiais controlando o tráfego com uma precisão irritante, ruas com fluxo de pedestre num único sentido, e eu sozinho, porque era impossível encontrar o irmão da Conciliação e seus amigos no meio daquela deliciosa confusão. Inocentemente, tínhamos combinado de nos encontrar na saída do metrô. Tsc tsc...
O local privilegiado é a ponte entre as Casas do Parlamento e o London Eye, que estava cheia de gente mas, quando finalmente cheguei perto, espremido pela multidão britânica, estava interditada, ninguém mais entrava. Provavelmente era só para os protegidos da Rainha. Cheguei a dar uma volta gigantesca e me posicionar do outro lado da mesma ponte, também sem sucesso. Aquelas pessoas lerdas, achando que não dava pra se mover mais e eu, como bom brasileiro, pensando “essa gente não sabe se empurrar, caralho?”. Não teve jeito mesmo e, às 23:30h, hora de Greenwich, voltei correndo até uma ponte que era o lugar melhorzinho por onde eu passara, bem a tempo de recuperar o fôlego e ver o show de fogos. O London Eye estava longe, de perfil, mas foi uma bela vista. Obviamente, não ouvi as doze badaladas “notúrnicas” do Big Ben (o verdadeiro). E os fogos também não eram aquilo tudo.
2008. Ano do rato. Inevitável lembrar do horóscopo chinês numa cidade com tantos japas (e aí fica uma coisa para refletir). Uns dois ingleses bêbados me desejaram “happy new year” e terminei a noite como faço sempre que passo a virada do ano em Londres: caminhando por horas pelos lugares de sempre, Piccadilly Circus, a feira de Natal com um parquinho de diversões montada na Leicester Square, o Soho. Lanches àquela hora? Tudo bem, mas somente comida fria (vai entender a lei deles). Pelo menos tinha metrô.
Era um novo dia de um novo tempo que começou, e resolvi explorar os mistérios da passagem do tempo, dando continuidade à minha trilogia passado-presente-futuro. Nenhum lugar melhor pra isso do que o Observatório Real de Greenwich, onde as horas do mundo nascem. Foi aí que descobri uma piada ainda melhor para os próximos anos; agora, se me pedem as horas e perguntam se meu relógio está certo, digo com orgulho que foi acertado pelo Prime Meridien of the World. Depois da foto oficial com um pé em cada hemisfério e de uma tranqüila caminhada, tive uma visão que, a princípio, atribuí àquelas substâncias velhas conhecidas: partindo do observatório e cortando os céus do planeta, um laser verde, o próprio Meridiano de Greenwich! E eu que sempre pensei que ele fosse uma linha imaginária...
O futuro começou mesmo no dia seguinte e, na falta do William Bonner e da Fátima, fui encontrar-me com celebridades bem mais famosas no Madame Tussaud's, o museu de cera. George Clooney sentado à mesa da ceia de Natal, preparada pelo chef Oliver, ao lado de Brad Pitt e Angelina Jolie, muito simpáticos, convidaram-me para cear com eles, mas tinha um bando de mortos de fome atrapalhando. No meio do salão, sempre se podia topar com Julia Roberts, Leonardo di Caprio, Samuel L. Jackson ou com uma fotógrafa anônima em quem todos esbarravam e pediam desculpas. Ela nunca respondia. Ah, e obviamente, com o Harry Potter! Imperdoável que não tivessem estátuas da Meryl Streep, vestindo Prada ou não (tive que me contentar com a Susan Sarandon), e da Madonna (e olha que ela mora em Londres). Entre os líderes políticos mundiais, me emocionei e juro que tentei tirar fotos da recém-falecida Benazir Bhutto. Mas infelizmente Hitler e Churchill, à sua frente, são bem mais famosos e causam uma certa... disputa entre os visitantes. Benazir, we still love you!
Na última noite, véspera da caravela zarpar rumo ao Canal da Mancha, cometi uma extravagância. Não, não comprei um alfinete na liquidação da Harrods. Assisti a um musical. Qual escolher, entre tantos? "O Fantasma da Ópera" estava no cirurgião plástico naquele dia, "Mary Poppins" estava lotado, final de temporada. Olhei pro lado e... "Mamma Mia!", o musical inspirado nas músicas do Abba. "É esse, tinha que ser esse", pensei. Nada contra "O Guarani", a ópera brasileira por excelência, mas assistir a um musical moderno e divertido em Londres foi algo que só posso classificar, citando O Vértice, futura moradora da cidade, como uma sensação de “vida pleeena”.
Na saída, eu ainda pensava no tempo. Se não houvesse o horário brasileiro de verão, seriam naquele momento 19 horas em Brasília, just in time para entrar no ar A Voz do Brasil.
Em Greenwich, 22 horas!


Supercalifragilisticexpialidocious!