AMSTERDAM - A HAIA - ROTTERDAM - DELFT - ROTTERDAM - BRUXELAS
Dizem que farinha de mandioca cria gente tola. Tenho conhecido na vida várias pessoas desse tipo, que se acabam em pratadas e mais pratadas de pirão d'água. Muitos deles são atraídos para a terra de onde toda a farinha emana. (Não a de mandioca, coisa de índio, que preferem inteira, mas a idéia é válida assim mesmo.) Os moinhos, ah os moinhos! Levei dias pra ver um, porque era preciso sair de Amsterdam. Também não vi tulipas, quem mandou ir no inverno. Mas vi a Jeannie, que ainda deve ser um gênio, dando explicações engraçadinhas sobre queijos. Quase fiz um pedido, mas vai que ela se apega. Com tanta coisa na mochila, não tinha espaço pra guardar a garrafa onde ela mora.
Nesse dia eu estava num ônibus com uma guia tetra-língüe, que falava inglês, francês e espanhol com sotaques perfeitos, deixando de fora, obviamente, o idioma local. Num primeiro momento achei que fosse uma mistura da Marli Marlei, a jurássica e empalhada jurada do Raul Gil, com a atriz norte-americana Lauren Bacall (cujo nome só fui lembrar muitos dias depois). Mas logo me dei conta que era a Geórgia Gomide, clássica atriz brasileira, perdida nos recantos neerlandeses.
Não vi a Ana Paula Arósio cruzando os canais da capital que não é sede de governo, o que estranhei, porque eu jurava que a Hilda Furacão tinha ido trabalhar no Red Light District. Páginas da Vida, sei... Talvez por isso, e contrariando o resto do mundo, não gostei muito da cidade.
No dia seguinte, passei algumas horas na Haia, sede de governo que não é a capital, onde vive Sua Majestade, a Rainha Beatrix (?!), cidade com uns prédios moderninhos onde não tem nada pra fazer além de ver o quadro que o Colin Firth pintou da Scarlett Johansson, com um pano amarelo amarrado no cabelo e um brinco de pérola. Tentei um circuito "instituições do Direito Internacional", mas a Corte Internacional de Justiça, que funciona num palácio belíssimo, não estava aberta à visitação. Felizmente, na volta pra estação de trem, tive o privilégio de ver a Bibi Ferreira andando de bicicleta. Que atriz! Perfeita no papel de cidadã holandesa em dia comum.
Por sorte eu não tinha pressa pra chegar em Rotterdam, porque perdi o primeiro trem esperando os caras da estação abrirem o guarda-volumes moderníssimo, que tava bichado e não abria, mesmo eu usando o cartão da maneira correta. Mas deu tudo certo e, na mesma noite, comi um sanduíche num KFC (Kentucky Fried Chicken), um genérico do McDonalds onde todos os funcionários eram surinamitas.
Nos dois dias seguintes, dediquei-me a explorar, alternando chuva e sol, aquela cidade belíssima, um dos maiores portos do mundo, com recortes geográficos impressionantes, pontes encantadoras, prédios moderníssimos, avenidas largas, com muito mais cara de cidade grande que Amsterdam. E um World Trade Center de uma única torre, que tinha o banheiro mais chique em que já entrei (dica do Guia Criativo para o Viajante Independente na Europa, R$ 74,00 no Submarino). O tal do Erasmo morava bem, pena que a estátua dele seja tão sem gracinha. Deve ter sido o lugar com menos turistas onde passei, um alívio bem-vindo a um turista cansado de fingir que é sociável.
Mas nada era tão legal quanto as casas cubo, um prédio em vários blocos, com apartamentos no formato de, adivinhem, cubos! As pessoas moram lá mesmo e é claro que não podemos entrar na casa delas, a não ser em um, que funciona como museu. Parece bizarro, mas tem 3 andares, é grande e confortável. Eu moraria, fácil. A Confraria dos 3 Quadrados aprovaria.
Caminhando por uma rua qualquer, e debaixo de chuva, entendi os sinais que recebi naqueles dias, vendo tantas celebridades. No chão, quadrados com marcas de mãos e pés, e nomes de famosos. Era a Walk of Fame da cidade. Barry White, B.B. King, David Copperfield (!), Dionne Warwick, Gloria Estefan, Gloria Gaynor, Grace Jones (!), Julio Iglesias, Laura Pausini, Mickey Mouse (!), Ray Charles, Suzanne Vega (que assinou “My name is Luka”), Tina Turner (oh my God!), Mercedes Sosa (madre de Dios!), e uma série de artistas holandeses internacionalmente desconhecidos. Não tinha do Tiesto. Fora isso, tinha de tudo. É, se não pode ir a Hollywood, vá a Rotterdam!
Passada rápida em Delft, cidade medieval, numa manhã de domingo fria, com tudo fechado e protestantes indo pra igreja. Só pra não dizer que não fui. E segui meu rumo, entre desconhecidos. Não consegui autógrafos, mas comprei um postal da Rainha Beatrix, finíssima em sua realeza discreta. A viagem seguiu e os moinhos continuaram dançando e rodando... hum, isso me deu fome.
Tem pão quentinho?
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