quarta-feira, 16 de julho de 2008

O Dicionário das Mães

Eu e outros membros do clã dos Francelinos temos um projeto do tempo do Ari Pandorga, que eu não sei se tem parentesco com a saudosa Pandorga, figura folclórica, ébria contumaz, que caiu na água e morreu afogada numa noite ao se abaixar pra urinar na beira do cais. O cais fica na Capital Histórica de Santa Catarina, assim como a sede do clã. O tal projeto é a publicação do Dicionário das Mães (e avós e tias e vizinhas e velhas da noveninha da dona Silvalina ou da missa de domingo de manhã na Roseta). Sempre adiei este projeto porque as palavras e expressões idiomáticas são incontáveis e não sabia por onde começar. Até que resolvi anotá-las à medida que iam surgindo nas conversas com meus conterrâneos. Seguem alguns verbetes selecionados. Não sou filólogo, portanto desconheço as origens ocultas desses vocábulos, que devem remontar ao tempo da construção da casa de Anita. Onde, aliás, ela nunca morou, apenas se vestiu pra casar. Aprendi com Mamãe Oliveira.
A gente não deve correr do bicho sem ver o pêlo - quem não arrisca, não petisca
Andar um eito - andar muito
Cabeça de osso pra sopa - pessoa avoada, que não presta atenção nas coisas.
Caralho da Emília! - imprecação usada em qualquer situação
Comeu cobra e não tomou água - expeliu gases intestinais com odor insuportável
Difícil pro ceguinho - constatação óbvia, semelhante à antiga “descobriu a pólvora” (expressão irônica)
Eu conheço o meu eleitorado - eu conheço os meus, eu sei como eles vão se comportar (a família, por exemplo)
Eu negaceei - eu fiquei de olho, à espreita
Isso dá em penca ou dá em cacho - palavra esquisita que a pessoa não tem a menor idéia do que seja
Mas será o cabrito? - Mas será possível? (quando a pessoa está incomodada)
Ô, seu diano - ô, seu diabo (sem invocar o tinhoso)
Ou calça de veludo ou cu de fora - ou uma coisa ou outra
Pára com essa barda - pára com essa mania
Tá de cegonha - está grávida
Tava falando cá com meus botões - estava falando sozinho
Tá todo apaixonado - está todo triste e choroso (porque se machucou, por exemplo)
Tu não conhece a Adelaide - tu não sabes com quem estás te metendo
Vai cachimbar formiga - não me estressa
Vai dar o porco - algo nada bom acontecerá
Vai dormir, vinagre - vai dormir e pára de me incomodar
Vocês não têm bandeira - vocês não tem critério, uma hora fazem/dizem uma coisa, outra hora fazem/dizem outra

Vem lavar a xexeca, Dayana!

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