FLORIANÓPOLIS – SÃO PAULO – LONDRES O Lexotan não faz mais efeito. Por isso resolvi recorrer a outros expedientes para a longa viagem que tinha pela frente, e que me manteriam afastado do blog por algumas semanas. Como a minha amiga Primeira Dama do Banco Central – também conhecida como O Vértice - não estava na cidade para me emprestar a sua flor alucinógena, artefato único e exclusivo comprado em Buenos Aires, resolvi apelar para minha outra amiga, a Delicada, que dispõe de um suprimento vitalício de xarope da felicidade e pílulas de arco-íris, que sempre lhe garantiram disposição, bom-humor e cabelos escovados nas primeiras horas da manhã. Antes de embarcar no aeroporto de Florianópolis, o dilema: eu não arriscaria embarcar com líquidos e medicamentos, fosse pelas restrições do vôo, fosse porque eles certamente eram proibidos no Reino Unido. Preocupação que eu não teria se o meu vôo fosse para Amsterdam. Resolvi tomar tudo ali mesmo, numa dose única, torcendo pra que demorasse a fazer efeito, pois as conseqüências poderiam ser terríveis na fila da imigração. Assim, comecei a virar as pílulas uma por uma, na ordem das cores que aprendi assistindo ao Mundo de Beakman: VLAVAAV, vermelho, laranja etc., ajudado por goles generosos do xarope de felicidade. Mas, com receio de algum efeito colateral – afinal, eram pílulas de arco-íris, que poderiam ter um efeito desviado – não ingeri a pílula anil, que guardei cuidadosamente para uso futuro. Esvaziei o frasco de xarope e tomei o rumo da zoropa. (Neste momento de meu relato, a Desligada se questiona: Mas Buenos Aires não fica na Argentina?) Quem foi que disse que ninguém viaja na noite de Natal e que o vôo estaria praticamente vazio? Depois de ceder meu lugar para um senhor avantajado que queria ir ao lado da mãe, porque é claro que marcaram a minha poltrona para duas pessoas, acomodei-me e deixei Sampa vendo os fogos de Natal (hein?) Depois que serviram o jantar – e agora a resposta à mais incessante das perguntas: não, eles não servem ceia no avião! -, adormeci. Lá pelas tantas acordei, olhei pela janela e, eis que senão quando, deparo-me com aquela figura simpática. Se não era o bom e velhinho Bom Velhinho?! Seguia tranqüilamente em seu trenó suuuper moderno, sem pressa, pois como todos sabem ele dispõe de aparelhos avançadíssimos desconhecidos pela ciência atual, que lhe permitem controlar a passagem do tempo. Ninguém acredita que só os fusos horários e o movimento da Terra seriam suficientes pra um homem daquela idade entregar todos os presentes das crianças boazinhas, né! Era conduzido pelos veadinhos, digo, renas, figuras decorativas que Noel manteve mesmo depois de instalar os jatos auto-propulsores, por ser muito apegado a eles. À frente, Rodolfo ia piscando, todo se querendo. Estou falando da rena do nariz vermelho, claro. Achei um pouco estranho ser o único passageiro que apreciava a companhia daquela figura lendária, o símbolo mais conhecido... da Coca-Cola, embora outras pessoas ainda estivessem acordadas, mas ignorei o assunto, tão maravilhado eu estava. E me decidi a chamar a sua atenção de alguma forma. Mas como? Felizmente, pensei rápido. Passei a mão na minha caderneta comprada no 1,99 da Laguna para as anotações de viagem, e escrevi com a letra maior que pude, torcendo pra que ele, além do vigor físico em sua idade avançada, também enxergasse bem: KIMI. Ao reconhecer o nome do seu conterrâneo mais famoso – depois dele próprio -, abriu um largo sorriso e me perguntou telepaticamente, em inglês, porque ele é poliglota mas não é vidente pra adivinhar que sou brasileiro, se eu gostaria de acompanhá-lo. Numa fração de pensamento, lá estava eu, tele-transportado para o mais monumental veículo já construído, ao ar livre e com controle de temperatura. E pensar que toda essa tecnologia é da Coca-Cola! Logo iniciamos uma longa conversa, mas para meu azar ele só falava de Fórmula 1. Pra que eu fui dar idéia? Depois consegui desviar o assunto para o autorama e outros brinquedos, e aí fiquei mais à vontade. Claus (vejam a intimidade) me ofereceu, adivinhem, uma Coca-Cola, abriu outra e começou a contar vários causos, disse que gosta muito da noite de Natal, não pelo trabalho ou pelas crianças, mas porque pode sair sozinho com seus veadinhos, digo, renas, sem a chata da Mamãe Noel por perto. E assim seguimos. Noel explicava para o Marco coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar. Nessa parte eu comecei a me sentir um pouco entediado e a ver umas luzes coloridas; mas eu achava que eram as outras renas que também estavam piscando. Tive a impressão que Rodolfo não párava de olhar pra trás, para mim. Será que os medicamentos estavam fazendo efeito? Claus percebeu a minha situação e resolveu me tele-transportar de voltar para o avião, mesmo porque ele estava viajando no sentido contrário à rotação da Terra e já estava na hora de seguir seu rumo. Tão rápido quanto antes, vi-me sentado em minha poltrona. Ao meu redor todos dormiam e ouvi em minha mente o Bom Velhinho se despedindo em bom finlandês, pois o meu lapão é péssimo: Hyvaa joulua, hohoho... e disparou feito um foguete por este espaço aéreo internacional de meu Deus. Depois, vi cada vez mais luzes ao meu redor, constelações que mudavam de posição, e ouvia uma música incessante que eu não sabia de onde vinha: We all live in a yellow caravel, yellow caravel, yellow caravel...
2 comentários:
hahaha
adorei toda a viagem!
loco pra ver o resto
escreve
escreve
escreve
Marco!
Excelente o seu relato!
Fiquei com vontade de viajar na noite de natal! Eheheheh...
Estou curiosa para ler as próximas histórias da viagem!
Beijos,
Cléo (Martha, para os não-íntimos)
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