Houve um tempo em que a espada era a lei. Mas a civilização veio substituir a barbárie. Lembro como se fosse há dois mil anos. Eu acabara de receber o Egito e o Norte da África na partilha dos domínios romanos que instituiu o triunvirato (epa!) logo após a morte de Júlio César Cardematori (ver Roma, primeira temporada, R$ 79,90 no Submarino). Augusto ficou com a capital e a Gália, que incluía as terras dos helvéticos, tirando-me o privilégio de fundar a Suíça. Mesmo assim, empunhando o conhecido estandarte com a cruz branca sobre fundo vermelho, aportei fagueiro (não Lépido, porque esse era o terceiro sujeito) em Terras de Faraó, à época governadas sabiamente por Cléo.
Apaixonamo-nos encontradamente. Como ela era muito festeira, decidiu logo organizar um grande baile. Achei ótimo, porque enquanto ela se dedicava aos preparativos, eu tratava das minhas fortes dores no pescoço, pois Cléo era muito alta.
Várias caravanas vieram a Alexandria, fazendo basicamente duas paradas no caminho: num oásis, para se refrescar e fazer um lanchinho, geralmente o BIG FARAÓ MAC, e no estúdio 2 da Anhangüera, para participar de algum programa de auditório apresentado por Sílvio Seti, dono do SET (Sistema Egípcio de Televisão).
O importante é que não nos misturamos com a gentalha, e a festa foi um sucesso. Escravos serviam as mais inebriantes bebidas, especialmente o apreciado leite de camela, que não continha soda cáustica e vinha perfeitamente acondicionado em embalagens tetrapak que, à época, tinham o formato de pirâmides.
Eu vestia uma bela toga roxa, pois ainda não haviam inventado as bermudas. Cléo, inaugurando aquele vestido dourado que vemos em todos os filmes, recepcionava os convidados. A Pequenininha e Xi!Marquinho atrapalhavam-se um pouco com o cordão de prata. De tanto pisarem em cima, um dos lados se soltou e eu o surrupiei ao final da festa. Aquela da Perninha posava, fazendo caras e bocas e gestos obscenos pra mim. A Desligada chegou mais tarde, pois tinha dormido na novela do anjo, um modismo hebraico recente. A Doutrinadora iniciava a relação que seria a mais bem resolvida da sua vida. Era muito requisitada, todos a chamavam, Leninha, Leninha, como era mais conhecida. A Delicada, que recentemente inventara a escova, fez algum estardalhaço ao chegar, deixando cair seu estojo. A futura Primeira-Dama do Banco Central, ainda muito menina, chorava porque sua mão ficou presa no cabelo da Barbie Egípcia, prenunciando certos problemas na indústria de brinquedos.
A música ficou por conta dos Devotos de Amon-Rá, os quatro rapazés de Gizé que revolucionaram o mundo na década de 1960 a.C. Na pista, a Avó da Neta, a mais velha de todos os convidados, dançou e rodou como nunca. Às vezes, enquanto descansava, olhava a maré e pensava no futuro.
Após o show, todos se divertiram no karaokê (a palavra era nova e foi trazida do oriente pela Desligada). Quem mais fez sucesso foi a Morena Tropicana, só interrompida pela chegada triunfal, de disco voador e tudo, de uma personagem muito aguardada. Não era a Xuxa, era a E.T.zuda. A Boa, convidada internacional, vinda dos confins do império, ao chegar quase atropelou um eunuco com seu camelo descontrolado, também conhecido como Fuka. Eu, Pecaaado! e a Ruiva compartilhamos as experiências de uma viagem a Uganda, e caímos na dança africana, intercalada ao ritual do pão com carne. Os outros convidados eram Aquela Gentinha, só pra fazer figuração.
Foi assim que tudo começou, com uma grande festa. Há muito mais a contar da história de um país tão avançado, mas fica pra outro dia, estou me sentindo um pouco cansado. Deve ser o calor. Aqui onde estou não é tão aprazível como no Egito.
Ala-la-ô ooo ooo ooo...
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Um Lexotan e um suco de tâmaras, por favor. Com gelo.
3 comentários:
Excelente, Excelente!!!!!
Ainda bem que você não é do tipo de pessoa que morre, afinal não saberiamos viver sem você!!!!!!!!!
Você é ÓTEMO...
Frase de destaque que, aposto, guiará muitos e muitos posts deste blog: "O importante é que não nos misturamos com a gentalha".
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